Caucase. Souvenirs de Voyage

Exposição coletiva de Pauliana Valente Pimentel (1975) e Sandra Rocha (1974) que resulta de uma reconstituição do itinerário que em 1891 Calouste Gulbenkian realizou pela Transcaucásia. As fotógrafas recriam a viagem do colecionador, produzindo uma memória visual da região sul do Cáucaso.
Collective exhibition of works by Pauliana Valente Pimentel and Sandra Rocha resulting from a trip re-enacting the itinerary followed in 1891 by Calouste Gulbenkian through the South Caucasus. The photographers recreated the collector’s journey to produce a visual memoir of the region.

«Caucase. Souvenirs de Voyage» é uma exposição de Pauliana Valente Pimentel (1975) e Sandra Rocha (1974) que resulta de uma reconstituição do itinerário que em 1891 Calouste Gulbenkian percorre pela Transcaucásia e que origina a publicação do seu livro La Transcaucasie et la Péninsule d'Apchéron – Souvenirs de Voyage. As fotógrafas recriam a viagem de Calouste Gulbenkian produzindo uma memória visual da região sul do Cáucaso. A exposição foi apresentada em Lisboa e em Paris, entre 27 de janeiro e 3 de abril de 2011 e entre 16 de janeiro e 30 de março de 2013, respetivamente.

A condição paralela e dual desta iniciativa está delineada desde a sua idealização até à sua concretização: o contraponto entre uma viagem empreendida por Calouste Gulbenkian em 1891 e o seu registo escrito, e a recriação desse mesmo percurso em 2009, tendo como objetivo uma fixação artística que resulta, dois anos depois, numa exposição e numa publicação bilingue, em francês e inglês, com título também ele sugestivo desse mesmo contraponto: «Caucase. Souvenirs de Voyage». Se, por um lado, o Fundador está na origem deste projeto, a sua Fundação é igualmente parte substancial do mesmo. Apresentado através da Fundação Calouste Gulbenkian e na Galeria de Exposições Temporárias do seu Museu, o projeto parte de uma ideia de duas antigas alunas do curso avançado de especialização em Fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística: Pauliana Valente Pimentel e Sandra Rocha frequentam os cursos de 2005 e de 2008, respetivamente. Por outro lado, são as duas artistas, com os seus universos próprios, quem cria esta memória visual, numa construção feita a duas mãos.

La Transcaucasie et la Péninsule d'Apchéron – Souvenirs de Voyage, de Calouste Gulbenkian, é publicado em 1891 pela Hachette. Recém-formado do curso de engenharia no King's College em Londres, Calouste Gulbenkian, recentemente regressado a Istambul, percorre, seguindo a determinação de seu pai, um itinerário pela Transcaucásia para observar de perto os trâmites da produção, do transporte e da refinação da indústria do petróleo no território. Documento de vasto interesse, até pela invulgar habilidade que o jovem Gulbenkian revela para o exame perspicaz e comentário fluente (em francês) dos cenários circundantes do seu percurso, esta publicação foi especialmente importante para a história da indústria do petróleo que começa a delinear-se na época. Os capítulos do seu relato referentes ao tema são publicados na Revue des Deux Mondes (15 de maio de 1891) e chamam a atenção para aquele que viria a ser o negócio que determina a sua vida como pioneiro da indústria, diplomata, colecionador de arte e filantropo.

Em 1989, cem anos depois do início da viagem de Calouste Gulbenkian, e cento e vinte anos depois do seu nascimento, a Fundação reedita o livro, que esgota rapidamente. Em 2011, determina-se a reedição do livro de Calouste Gulbenkian, em versão fac-símile da edição de 1891. É também publicada a primeira edição do livro em inglês, coordenada por Martin Essayan, bisneto de Calouste Gulbenkian. É neste contexto que é apresentada a exposição «Caucase. Souvenirs de Voyage» e lançada a publicação homónima.

Entre 2005 e 2008, a Fundação Calouste Gulbenkian promove o Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística, coordenado por António Pinto Ribeiro e Catarina Vaz Pinto, que visa facultar formação aprofundada a artistas, potenciando a sua capacidade enquanto criadores e autores. Organizam-se cursos avançados com especializações em diversas disciplinas, como o cinema, a fotografia, o teatro, a ópera e a coreografia. Os cursos de especialização em fotografia frequentados por Pauliana Valente Pimentel e Sandra Rocha são ambos coordenados por Sérgio Mah.

Segue-se a já referida proposta que as duas artistas apresentam para este projeto artístico, que é acolhida sem reservas pelo Gabinete da Presidência e organizada em articulação com os Serviços Centrais da Fundação. Em 2009, mais de cem anos depois da viagem de Calouste Gulbenkian, as duas fotógrafas partem para uma viagem de trinta dias pela Arménia, Geórgia e Azerbaijão. A longa viagem que leva por mar Calouste Gulbenkian de Istambul até Batumi, na costa oriental do mar Negro, e depois de comboio até Baku, na costa ocidental do mar Cáspio, é percorrida de avião, de comboio e através de «boleias improvisadas e regateadas» (Vilela, Jornal i, 27 jan. 2011, pp. 40-41) por Sandra Rocha e Pauliana Valente Pimentel. O livro de Calouste Gulbenkian não é, na sua essência, e como o afirmam as duas fotógrafas, «um roteiro de viagem» (Ibid., p. 40), pelo que Sandra Rocha e Pauliana Valente Pimentel se servem dele sobretudo como referência preliminar para a partida e, mais tarde, como referencial de consolidação de chegada (do projeto).

A (re)descoberta de territórios e dos seus habitantes faz-se através de uma série de peripécias próprias de uma viagem por territórios pouco habituados ao turismo. Será também essa circunstância que determina que as duas fotógrafas não se separem, registando muitas vezes os mesmos lugares e elementos, embora cada uma produza na especificidade do seu universo artístico. É mais um aspeto da condição paralela deste encontro, a repetição de elementos que reconhecemos e distinguimos, tanto mais interessante neste contexto circular de dualidades em que as expressões não se confundem na harmonia da sua coexistência.

 Sandra Rocha recorre ao digital e faz uso da saturação baixa da cor para criar uma sensação temporal esbatida. Pauliana Valente Pimentel, pelo contrário, recorre à película e apresenta imagens carregadas, enfatizadas pelo elemento de repetição, patente nos seus dípticos e trípticos. São imagens de um mesmo lugar e de um tempo comum, clivadas pela singularidade da sua expressão. Além da vertente técnica, a vertente temática é também marcada por dualismos muito concretos: a vida exterior e a vida interior, o urbano e o rural, as paisagens vazias e as paisagens habitadas, a presença da figura humana feminina, fragmentada, ou inteira e em evidência, o detalhe e o panorama, os objetos e a sua medida. Como eixos estruturantes destas construções estão sempre presentes a relação com o tempo e a memória. São estas duas naturezas artísticas distintas que, conjugadas, podem ser vistas como uma unidade de uma geografia apreendida, criada e ficcionada através do registo e do olhar fotográfico. Exprimem-se, no entanto, menos como documentos de uma realidade da atualidade da Transcaucásia, do que como comentários construídos na interpretação do lugar e da memória e na descoberta do potencial artístico dessa condição.

A exposição, disposta de forma sóbria e clara, inaugurou no dia do relançamento do livro de Calouste Gulbenkian, La Transcaucasie et la Péninsule d'Apchéron – Souvenirs de Voyage, fazendo parte de um momento de homenagem da Fundação ao seu Fundador. O livro «Caucase. Souvenirs de Voyage» é lançado em inglês e francês (à semelhança daquele que esteve na sua génese), incluindo textos de Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, e das duas fotógrafas Sandra Rocha e Pauliana Valente Pimentel. A edição conta ainda com a reprodução de diversas fotografias e citações do livro de Calouste Gulbenkian, bem como com notas biográficas das duas artistas.
Em 2013, a exposição é apresentada em Paris, na Delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian, recorrendo-se a uma espécie de metaitinerário, neste caso o das próprias fotografias, do Cáucaso, e o da disposição dispersa de cerca de vinte fotografias nos diversos andares do edifício, proporcionando uma visita ao mesmo.

A exposição teve uma boa inscrição mediática, tanto em 2011 como em 2013, da qual se destacam os artigos de Joana Stichini Vilela no Jornal i e o pequeno mas esclarecedor texto de Alexandra Carita no Expresso.

Anos mais tarde, em 2019, no ano da celebração dos 50 anos da Fundação e do 150.º aniversário do nascimento de Calouste Gulbenkian, a Fundação incorpora na coleção do Centro de Arte Moderna quatro obras desta série, duas de cada uma das artistas: Georgia #04 e Georgia #08, de Sandra Rocha, e Yeravan #2 e Batumi #3, de Pauliana Valente Pimentel.

Vera Barreto, 2020


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Batumi #3 (Georgia)

Pauliana Valente Pimentel (1975)

Batumi #3 (Georgia), Inv. 19FP682

Yeravan #2 (Armenia)

Pauliana Valente Pimentel (1975)

Yeravan #2 (Armenia), Inv. 19FP683

Georgia #04

Sandra Rocha (1974)

Georgia #04, Inv. 19FP684

Georgia #08

Sandra Rocha (1974)

Georgia #08, Inv. 19FP685

Batumi #3 (Georgia)

Pauliana Valente Pimentel (1975)

Batumi #3 (Georgia), Inv. 19FP682

Yeravan #2 (Armenia)

Pauliana Valente Pimentel (1975)

Yeravan #2 (Armenia), Inv. 19FP683

Georgia #04

Sandra Rocha (1974)

Georgia #04, Inv. 19FP684

Georgia #08

Sandra Rocha (1974)

Georgia #08, Inv. 19FP685


Eventos Paralelos

Lançamento editorial

La Transcaucasie et la Péninsule d'Apchéron. Souvenirs de Voyage

27 jan 2011
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 129468

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-Délégation en France, Paris) 2013

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 129469

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-Délégation en France, Paris) 2013


Exposições Relacionadas

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