Kum Kapi. Tapetes Viajantes

Exposição de cinco tapetes Kum Kapi pertencentes à coleção do Museu Gulbenkian e de dois trabalhos de Mekhitar Garabedian (1977), estabelecendo-se, assim, um diálogo entre a tradição e a contemporaneidade. A exposição foi organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian, em colaboração com o Serviço das Comunidades Arménias da FCG.
Exhibition of five Kum Kapi carpets belonging to the Founder’s Collection of the Calouste Gulbenkian Foundation, and two works by Mekhitar Garabedian (1977), bringing together the traditional and the contemporary. The show was organised by the Calouste Gulbenkian Museum in collaboration with the Armenian Communities Service of the FCG.

Organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian (MCG), em colaboração com o Serviço das Comunidades Arménias da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), «Kum Kapi. Tapetes Viajantes» apresentou um conjunto de cinco tapetes arménios da Coleção do Fundador da FCG, três dos quais da autoria de Hagop Kapoudjian (1870-1946), em diálogo com uma criação contemporânea de Mekhitar Garabedian (1977).

A exposição, com curadoria de Clara Serra e Rita Fabiana, esteve aberta ao público de 13 de maio a 19 de setembro de 2019.

O título da mostra remetia para o tipo de tapetes expostos – Kum Kapi –, cujo nome corresponde a um bairro em Istambul, junto aos muros do Palácio Topkapi, onde se fixaram vários artesãos arménios, ou mestres tapeceiros, oriundos da Turquia Central, durante o século XIX. Situado num ponto geográfico estratégico, pela proximidade a Hereke, importante centro de produção têxtil, de grande notoriedade sobretudo no século XX, a comunidade arménia encontrou em Kum Kapi um local de resposta às perseguições que se intensificavam nas cidades de província.

O que caracteriza os tapetes Kum Kapi são os seus desenhos inspirados na tapeçaria persa, cujos motivos reinterpretam através de uma técnica de grande qualidade, contrastando a riqueza dos seus materiais, como seda e fios metálicos, com as condições precárias em que eram concebidos. Com o genocídio que atingiu o povo arménio no princípio do século XX, os mestres tapeceiros tiveram de fugir da Turquia, dando continuidade à produção de tapetes Kum Kapi noutros locais, numa atividade que se perpetuou até aos anos 30 do século passado.

Um dos mestres tapeceiros mais conhecidos deste período foi Hagop Kapoudjian, que, ao estabelecer-se em Paris no início do século XX, travou conhecimento com Calouste Sarkis Gulbenkian. Em 1923, abriu um ateliê em nome próprio na Rue de Saint-Lazare, onde ganhou reputação internacional como restaurador de tapetes de nós e se tornou restaurador dos tapetes da coleção de Gulbenkian. Destes tapetes restaurados por Kapoudjian, encontrava-se em exposição um tapete persa do século XVIII/XIX restaurado pelo mestre tapeceiro em março de 1938.

Kapoudjian foi um dos grandes mestres da tapeçaria Kum Kapi, tendo estudado os padrões dos tapetes persas do período safávida, ou seja, dos séculos XVI e XVII, para criar os seus próprios desenhos, o que aliado à inovadora utilização de felpa e ao domínio da paleta cromática deu origem a tapetes cujo brilho e tonalidades os distinguiam dos restantes.

Um dos objetivos da exposição foi promover o diálogo entre a coleção do Museu Calouste Gulbenkian e a contemporaneidade, razão pela qual estes tapetes foram expostos lado a lado com duas obras de Mekhitar Garabedian, artista de origem arménia, na altura a residir em Gante, na Bélgica. De Garabedian foram expostas duas obras da série Fig. a, a comme alphabet (2012-2016), que «evocam exercícios de aprendizagem do alfabeto arménio, aqui materializados num tapete e desenhados diretamente na parede da galeria» (Kum Kapi. Tapetes Viajantes, 2016, p. 2).

As obras de Mekhitar Garabedian evocam o papel da linguagem na memorização da cultura e a sua importância em situações de diáspora. Assim, mais do que um gesto pessoal, o exercício da escrita torna-se um ato coletivo, fulcral para a preservação da memória de um povo, e um ritual de pertença cultural e identitária. Ao mesmo tempo, a repetição confere às letras um valor gráfico, como se fossem apenas elementos decorativos, procedimento esse «que participa de um processo de migração, apropriação e reinvenção das formas desenhadas que, na origem, ligou a arte do livro e a arte dos tapetes» (Kum Kapi. Tapetes Viajantes, 2016, p. 16).

Além da relação entre os dois artistas, é clara a ligação entre Garabedian e Calouste Gulbenkian e a sua história – o empresário, de origem arménia, cedo foi estudar para Inglaterra, fixando-se depois em Paris. As curadoras quiseram que o sentido de diáspora arménio ficasse representado na exposição através da relação entre tapete e viagem.

Foi publicado um pequeno caderno da exposição com a reprodução dos cinco tapetes da Fundação e os dois trabalhos de Mekhitar Garabedian. O caderno inclui também um texto assinado por Razmik Panossian, diretor do Serviço das Comunidades Arménias da FCG, que se debruça sobre a importância do papel da diáspora arménia na divulgação e conservação da cultura do povo arménio na Europa e nos Estados Unidos da América.

Paralelamente ao programa de visitas guiadas, foram organizadas uma conversa com as curadoras da exposição e a conferência «Os arménios e a produção de tapetes. Três milénios de paixão», na qual esteve presente Dickran Kouymjian, escritor, historiador e professor, e também a primeira pessoa a ter uma pós-graduação em Armenian Studies, pela Columbia University.

No relatório de avaliação do público, os visitantes valorizaram o interesse da exposição, assim como a simpatia dos assistentes de sala. Ao mesmo tempo, alguns elementos do público criticaram a fraca iluminação e a falta de informação disponível, em comentários como: «Luz/Iluminação continua a ser fraca. [...] Sinto falta de informação junto às peças expostas» e «More detailed labels.» Das 46 pessoas inquiridas, todas recomendariam a exposição (Relatório final – avaliação de satisfação de público, 13 out. 2016, Arquivos Gulbenkian, ID: 267790).

A exposição «Kum Kapi. Tapetes Viajantes» foi divulgada nos jornais Público e Sábado e em várias plataformas online, com destaque para o website da Fundação Calouste Gulbenkian.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Desconhecido

Tapete, Inv. T13

Tapete "Kumkapi"

Desconhecido

Tapete "Kumkapi", Inv. T95

Tapete

Hagop Kapoudjian

Tapete, Início do séc. XX / Inv. T107

Tapete "kumkapi"

Hagop Kapoudjian

Tapete "kumkapi", Inv. T77

Tapete "Kumkapi"

Hagop Kapoudjian

Tapete "Kumkapi", Inv. T98


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Kum Kapi. Tapetes Viajantes]

mai 2016 – set 2016
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

À Conversa com as Curadoras. Clara Serra e Rita Fabiana

mai 2016
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal
Conferência / Palestra

Os Arménios e a Produção de Tapetes. Três Milénios de Paixão

29 jun 2016
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Mekhitar Garabedian (à esq.), Rita Fabiana, Teresa Gouveia e Clara Serra (à dir.)
Luísa Sampaio (à esq.) e João Carvalho Dias (ao centro)
Nuno Vassallo e Silva, João Castel-Branco Pereira (esq.), Pedro Leitão e Cristina Sena da Fonseca (dir.)
Ana Maria Campino (atrás, dir.)
Rui Xavier e Sónia Brito
Ana Maria Campino e Rita Albergaria (à esq.), Francisco Amorim (ao centro) e Carla Paulino (à dir.)
Rita Fabiana (à esq.) e Teresa Patrício Gouveia (à dir.)
Fernanda Passos Leite (esq.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 3337

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2016

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 3341

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 2016


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