Exposição coletiva organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian (MCG) e dedicada exclusivamente à apresentação da coleção de desenhos e aguarelas adquiridos por Calouste Gulbenkian entre 1905 e 1937. Comissariada por Manuela Fidalgo, conservadora do MCG, esta iniciativa serviu para mostrar não só a relação do colecionador com a arte do desenho, mas também um núcleo habitualmente mantido em reserva por razões de conservação.

Além de cerca de 40 desenhos, a mostra incluiu um conjunto mais reduzido de aguarelas. Num dos textos do catálogo, Manuela Fidalgo esclarece que Calouste Sarkis Gulbenkian, apesar de ter adquirido alguns estudos preparatórios – pela sua qualidade e perfeito estado de conservação –, se sentia sobretudo atraído pela obra acabada, capaz de satisfazer os seus requisitos de colecionador, cujo lema consistia em só se contentar com «o melhor».

Esta seria a primeira vez que o núcleo de espécimes gráficos da Coleção Gulbenkian foi apresentado depois das inundações de 1967 que assolaram Portugal, e especialmente a região de Lisboa, infligindo danos quase irreversíveis em numerosas obras da Coleção que, enquanto decorria a construção do Museu Calouste Gulbenkian, se encontravam depositadas no Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras. No ano seguinte àquela calamidade natural, as obras viajaram para o Rijksmuseum, em Amesterdão, onde 35 dos 40 desenhos foram restaurados. As restantes obras foram posteriormente tratadas graças aos avanços científicos na área do restauro e ao trabalho da equipa de técnicos da Oficina de Restauro do Museu Gulbenkian (O Traço e a Cor. Desenhos e Aguarelas na Coleção Gulbenkian, 2014).

Provenientes dos principais centros de produção europeus (França, Holanda, Flandres, Reino Unido, Itália), os desenhos e aguarelas integrados na exposição apresentaram algumas das temáticas mais recorrentes em toda a Coleção Gulbenkian: paisagem, retrato, cenas religiosas ou naturezas-mortas.

Entre os artistas representados, destacavam-se nomes como Antoon van Dyck (1599-1641), Albrecht Dürer (1471-1528), Félix Ziem (1821-1911), Hans Holbein, o Velho (1460-1524), Jean-Antoine Watteau (1684-1721), Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) ou Jacob van Ruisdael (1628-1682).

Dentro do pequeno conjunto de aguarelas selecionadas para a mostra, a atenção centrava-se nos trabalhos de William Turner (1775-1851), Ruínas da Abadia de Tintern (c. 1794) e Plymouth com Arco-Íris (c. 1825), bem como nas 57 aguarelas ilustrativas das fábulas de Jean de La Fontaine (1621-1695), reunidas num álbum encomendado por Gulbenkian a Jean Dunand (1877-1942) (O Traço e a Cor. Desenhos e Aguarelas na Coleção Gulbenkian, 2014).

O projeto expositivo ficou a cargo de Mariano Piçarra e foi organizado cronologicamente entre os séculos XVI e XX. O percurso encerrava com os desenhos mais recentes de Paul Jouve (1878-1973), Águia-Real (c. 1914) e Pantera-Negra e Serpente (Python) (1920), e do artista japonês Léonard Tsuguharu Foujita (1886-1968), a série Paisagem (c. 1927), desenhando-se um circuito expositivo que percorria os momentos mais significativos da história da arte do desenho.

Foi também incluído na mostra um conjunto de manuscritos impressos pertencentes à Coleção Gulbenkian, ilustrados com desenhos e aguarelas originais das épocas apontadas, com o intuito de enriquecer a temática.

A exposição foi complementada com uma conferência de José Luís Porfírio, museólogo, crítico de arte e antigo diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, intitulada «O vestígio, o documento, a obra nos desenhos de Calouste Gulbenkian», realizada no dia 4 de setembro de 2014 no Auditório 3 da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

Um dia antes da inauguração da mostra, o Museu Calouste Gulbenkian recebeu a visita oficial do ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional dos Emiratos Árabes Unidos, o xeque Abdullah bin Zayed Al Nahyan, que visitou a exposição sob a orientação de Manuela Fidalgo e acompanhado pelo presidente da FCG, Artur Santos Silva.

A exposição recebeu 11 077 visitantes durante os 75 dias que esteve patente ao público.

Joana Atalaia, 2019