O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo

Exposição coletiva comissariada por João Castel-Branco Pereira e Alfonso Pleguezuelo. A mostra integrou 171 peças, com as quais os comissários propunham refletir sobre a importância do azulejo enquanto expressão artística que funcionou como «ferramenta de comunicação» entre diferentes culturas, do Antigo Egito à contemporaneidade.
Collective exhibition curated by João Castel-Branco Pereira and Alfonso Pleguezuelo. The show included around 171 artworks, curated to encourage a reflection on the importance of the azulejo (tile art) as a “communication tool” between different cultures, from Ancient Egypt to the contemporary era.

Organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian (MCG), esta exposição coletiva contribuiu para valorizar o papel do azulejo enquanto difusor de diferentes ideias e modelos decorativos. Comissariada por João Castel-Branco Pereira, diretor do MCG, e por Alfonso Pleguezuelo, professor catedrático da Universidade de Sevilha, a mostra integrou 171 peças provenientes de 32 coleções privadas e públicas, nacionais e internacionais, com destaque para instituições internacionais como o Musée du Louvre, o Musée d’Orsay ou a Cité de la Céramique, em Sèvres, a par de instituições nacionais como o Museu Bordalo Pinheiro, o Museu Nacional do Azulejo ou o Museu Nacional de Machado de Castro.

Segundo Castel-Branco Pereira, num filme realizado pelo cineasta João Mário Grilo a pedido da Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição pretendeu «mostrar como, a partir de um material pobre, se conseguiram resultados espetaculares», recorrendo a cerâmicas usadas na arquitetura, desde a Ásia Central à Europa Ocidental e ao Norte de África (O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo [audiovisual], FCG, 2014). Muito mais que uma «forma inteligente de vestir a arquitetura», o azulejo serviu, ao longo de milhares de anos, como «ferramenta de comunicação», aproximando comunidades culturais distintas, conforme explicou Alfonso Pleguezuelo (Canelas, Público, 26 out. 2013). O comissário valorizou as características deste material, cujo brilho «permanente» proporciona efeitos visuais que a pintura não consegue alcançar, pela «vivacidade da cor que um vidrado sobre uma pasta cerâmica consegue» (Ibid.).

A capacidade de adaptação do azulejo a novas linguagens foi apresentada em cinco núcleos distintos, organizados cronologicamente e de uma forma abrangente, desde o Antigo Egito até à contemporaneidade, com peças dos primeiros anos do século XXI: «Nas origens», «Paredes que falam», «Ornato e mensagem», «Poéticas narrativas» e, por último, «Presente e futuro».
Um dos objetivos do diretor do Museu foi mostrar o que de melhor se fez «no azulejo, quer no mundo islâmico, quer no mundo cristão», apoiando-se na qualidade das peças pertencentes à Coleção Gulbenkian, principalmente no núcleo de Iznik, um dos principais centros de produção de cerâmica da região da Turquia (Ibid.).

O subtítulo da exposição – «A Rota do Azulejo» – estabelecia, nas palavras do comissário português, um paralelo simbólico com «a rota da seda, que durante séculos trouxe seda, porcelanas e especiarias do Oriente para chegarem até ao Ocidente Europeu» (O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo [audiovisual], FCG, 2014). O percurso expositivo tinha início num painel do segundo quartel do século XVIII, produzido por uma oficina de Lisboa, com a representação da deusa da guerra Minerva (Palas Atena, na mitologia grega), uma peça adquirida pelo Estado Português para o Museu Nacional do Azulejo na década de 1980, época em que Castel-Branco Pereira era o diretor da instituição.

A mostra integrou uma seleção de painéis azulejares com diversos motivos muito apreciados no Ocidente, começando com exemplares das primeiras cerâmicas vidradas utilizadas no Egito e na Mesopotâmia, e prosseguindo com motivos geométricos, representações de figuras clássicas, cenas da mitologia cristã e motivos naturalistas – também presentes, por exemplo, nas decorações das tapeçarias islâmicas. Integrou igualmente significativos conjuntos de peças, como um painel de tijolos vidrados intitulado Arqueiro, mandado construir no reinado de Dário I (r. 522-486 a.C.); um painel de azulejos com uma representação do santuário de Meca, datado da primeira metade do século XVIII; composições que remetiam para poéticas narrativas, como os três azulejos de rodapé com jogos de crianças (c. 1564-1565), atribuídos a Juan Flores; ou ainda composições modernas que refletiam transformações técnicas decorrentes do progresso industrial.

Neste último núcleo, mais contemporâneo, destacou-se o Pavão (1908-1910) de Max Laeuger (1864-1952), bem como um painel de azulejos inspirado na produção de Iznik, assinado por Bülent Erkmen (1947).

«Nós vemos o azulejo desde uma arte com proximidade ao artesanato, com azulejos pintados por artesãos, até [uma arte trabalhada por] artistas eruditos que tiveram conhecimentos, que estudaram perspetiva, desenho e pintura», explicou o diretor do Museu Calouste Gulbenkian sobre a diversidade de soluções plásticas inerente a esta prática (O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo [audiovisual], 2014).

A exposição foi complementada por um ciclo de conferências com especialistas como Annie Caubet, conservadora-geral do Musée du Louvre, que apresentou uma comunicação sobre a origem do azulejo; John Carswell, da School of Oriental and African Studies, que se debruçou sobre a produção islâmica; a especialista em azulejo figurativo português Ana Paula Correia, da Escola de Artes Decorativas da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, e Alfonso Pleguezuelo, que apresentou o Real Alcázar, de Sevilha.

Durante os três meses em que esteve patente, a exposição «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo» recebeu 38 353 visitantes.

Joana Atalaia, 2019

Organised by the Calouste Gulbenkian Museum (MCG), this group exhibition helped highlight the role played by the tile in the dissemination of ideas and decorative styles. Curated by João Castel-Branco Pereira, director of the MCG, and Alfonso Pleguezuelo, a lecturer at the University of Seville, the exhibition comprised 171 pieces from 32 Portuguese and international public and private collections, including major international institutions such as Musée du Louvre, Musée d’Orsay and the Cité de la Céramique in Sèvres, as well as Portuguese institutions including Museu Bordalo Pinheiro, Museu Nacional do Azulejo and Museu Nacional de Machado de Castro.

According to Castel-Branco Pereira, in a film directed by João Mário Grilo at the request of the Calouste Gulbenkian Foundation, the exhibition aimed to “show how spectacular results can be created from humble materials”, by exploring ceramics used in architecture from Central Asia to Western Europe and North Africa (O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo [audio-visual], FCG, 2014). As Alfonso Pleguezuelo explains, tiles are much more than just a “smart way of cladding buildings”; for thousands of years, they have also acted as a “communication tool”, bringing together different cultures, (Canelas, Público, 26 Oct 2013). The curator praised the properties of this material, whose “everlasting” shine creates visual effects that painting cannot match, due to the “vibrant colour that glaze on ceramic clay achieves” (Ibid.).

The capacity of tiles to adapt to new forms of expression was explored in depth over the course of five areas, arranged chronologically from Ancient Egypt to the present day, with pieces from the early 21st century: “In the origins”, “Walls that talk”, “Ornamentation and transmitting messages”, “Poetic narratives”, and, finally, “Present and Future”. One of the aims of the Museum’s director was to showcase the finest “tiles, from both the Islamic and the Christian worlds”, building on the quality of the pieces belonging to the Gulbenkian Collection, in particular its wealth of ceramics from Iznik, one of the main tile manufacturing hubs in Turkey (Ibid.).

According to its Portuguese curator, the subtitle of the exhibition – “A Rota do Azulejo” (The Route of the Tile) – drew a symbolic parallel with “the silk route, which for centuries brought silks, porcelain and spices from the Orient to Western Europe” (O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo [audio-visual], FCG, 2014). The exhibition opened with a panel dating from the second quarter of the 18th century, produced by a workshop in Lisbon, depicting the goddess of war Minerva (Pallas Athena in Greek mythology), a piece acquired by the Portuguese Government for the Museu Nacional do Azulejo (National Tile Museum) in the 1980s, when Castel-Branco Pereira was the director of that institution.

The exhibition included a selection of tiled panels featuring various motifs popular in the West, beginning with examples of some of the earliest glazed ceramics used in Egypt and Mesopotamia and continuing with geometric motifs, depictions of classical figures, scenes from Christian mythology and natural motifs – also seen in the decoration of Islamic tapestries. It also featured important groups of tiles, such as a glazed brick frieze entitled Archer, commissioned during the reign of Darius I (522-486 BC); a tiled panel depicting the sanctuary at Mecca, dating from the first half of the 18th century; compositions inspired by narrative poetry, such as the three skirting board tiles depicting children at play (c. 1564-1565), attributed to Juan Flores; as well as modern compositions that reflect the technical changes resulting from industrial progress.

In this final, more contemporary area, highlights included Peacock (1908-1910) by Max Laeuger (1864-1952), as well as a tiled panel by Bülent Erkmen (1947), which took its inspiration from Iznik ceramics.

“We see the tile move from something more akin to craft, with tiles painted by artisans, to [an artform created by] trained artists with knowledge, who has studied perspective, drawing and painting”, says the director of the Calouste Gulbenkian Museum, explaining the varied decorative approaches inherent this medium (O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo [audio-visual], 2014).

The exhibition was accompanied by a series of lectures by experts including Annie Caubet, a curator at the Musée du Louvre, who gave a talk on the origins of the tile; John Carswell of the School of Oriental and African Studies, who discussed Islamic tile production; Portuguese illustrated tile expert Ana Paula Correia of the Fundação Ricardo Espírito Santo Silva School of Decorative Arts, and Alfonso Pleguezuelo, who delivered a presentation on the Real Alcázar of Seville.

During the exhibition’s three month run, “O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo” (The Splendour of Cities. The Route of the Tile) received 38,353 visitors.


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Desconhecido

Inv. 1566A

Desconhecido

Século XIII-XIV / Inv. 1559

Desconhecido

c.1555-65 / Inv. 1584

Desconhecido

Inv. 1598A/B

Desconhecido

Século XVII / Inv. 1605

Desconhecido

c.1580 / Inv. 1581

Desconhecido

c.1580-1590 / Inv. 1643

Desconhecido

1575-85 / Inv. 1666

Desconhecido

c.1570-80 / Inv. 1668

Desconhecido

Final do século XVI / Inv. 1680

Desconhecido

ca.1572 / Inv. 1688

Desconhecido

c.1580-1590 / Inv. 1694


Eventos Paralelos

Ciclo de conferências

[O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo]

4 nov 2013 – 25 jan 2014
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal
Visita oficial

[O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo]

28 out 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência de imprensa. João Castel-Branco Pereira (à esq.), e Alfonso Pleguezuelo (ao centro) e Jorge Rodrigues (à dir.)
Conferência de imprensa
Conferência de imprensa. Alfonso Pleguezuelo (à esq.)
Conferência de imprensa
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por John Carswell. Nuno Vassallo Silva (à esq.) e John Carswell (à dir.)
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por John Carswell
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por John Carswell. Nuno Vassallo Silva (à esq.) e John Carswell (à dir.)
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por John Carswell
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Annie Caubet. Annie Caubet (à esq.) e João Castel-Branco Pereira (à dir.)
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Annie Caubet
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Ana Paula Correia. João Castel-Branco Pereira (à esq.) e Ana Paula Correia (à dir.)
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Ana Paula Correia
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Ana Paula Correia
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Alfonso Pleguezuelo. Alfonso Pleguezuelo (à esq.) e João Castel-Branco Pereira (à dir.)
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Alfonso Pleguezuelo. Alfonso Pleguezuelo (à esq.) e João Castel-Branco Pereira (à dir.)
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Alfonso Pleguezuelo
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Alfonso Pleguezuelo
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Alfonso Pleguezuelo
Conferência «O Brilho das Cidades. A Rota do Azulejo», proferida por Alfonso Pleguezuelo
Visita oficial de Maria Cavaco Silva. João Castel-Branco Pereira (ao centro) e Maria Cavaco Silva (à dir.)
Visita oficial de Maria Cavaco Silva. A Rota do Azulejo». Maria Cavaco Silva (à esq.) e João Castel-Branco Pereira (à dir.)
Visita oficial de Maria Cavaco Silva
Visita oficial de Maria Cavaco Silva
Ana Paula Gordo (à esq.), Artur Santos Silva (centro, à esq.) e João Castel-Branco Pereira (centro, à dir.)
Artur Santos Silva (à esq.) e João Castel-Branco Pereira (à dir.)
Artur Santos Silva (à esq.) e João Castel-Branco Pereira (à dir.)
João Castel-Branco Pereira (à dir.)
Alfonso Pleguezuelo

Multimédia


Documentação


Periódicos


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