Miguel Palma. Linha de Montagem

Exposição individual antológica do artista Miguel Palma (1964). A mostra reuniu 170 obras do artista, entre instalação, escultura, maquetes e documentação, que exploram mecanismos técnicos na fronteira entre o lúdico e o científico. A então diretora do Centro de Arte Moderna da FCG, Isabel Carlos, assegurou a curadoria da exposição.
Solo retrospective exhibition of work by artist Miguel Palma (1964). The show featured 170 of the artist’s works, including installations, sculptures, models and documentation, which explored technical mechanisms between playful and scientific. Isabel Carlos, then-director of the Modern Art Centre of the FCG, curated the exhibition.

Em maio de 2011, por iniciativa do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, foi organizada a exposição antológica do artista português Miguel Palma (1964). Ainda enquanto diretora do CAM, Isabel Carlos assegurou a curadoria da exposição.

A exposição ocupou toda a Nave do CAM e os espaços adjacentes, dando a ver a extensa e criativa produção de mais de duas décadas de trabalho de Miguel Palma. O seu percurso artístico é marcado por instalações produzidas de forma não tradicional, abordando frequentemente temas relacionados com o modo como a tecnologia tem influenciado a vida do homem, o desenvolvimento tecnológico e a sua relação com o ambiente, a ideia de poder, a ecologia, o universo infantojuvenil, a obsessão pela máquina. Paralelamente à construção de instalações de grande e média escala, o artista recorre ao desenho, ao vídeo, à performance, à escultura e à construção de miniaturas dos seus projetos e de livros de artista.

De facto, segundo Isabel Carlos, «as obras de Miguel Palma remetem-nos para um território entre a arte e a engenharia». E acrescenta: «Miguel Palma é um dos mais produtivos e profícuos artistas da sua geração (a da década de 1990) e só isso seria suficiente para justificar esta antológica, após outra ainda recente no tempo (Culturgest, Lisboa, 2007).» (Carlos, Miguel Palma. Linha de Montagem, 2011, p. 25)

O título da exposição, «Linha de Montagem», pretendeu exatamente sublinhar uma das características principais da obra do artista – a criação de esculturas e objetos que se situam num território entre o mecânico e o artístico, entre o mundo da engenharia e da arquitetura e o mundo da arte, e entre o natural e o artificial – mas igualmente remeter para o modo como se concebeu a exposição para a Nave do CAM. O projeto expositivo foi pensado como se aquele espaço se transformasse num enorme hangar que recebe várias linhas de montagem compostas por diversos elementos – elementos tanto «reais como virtuais, orgânicos como mecânicos, ecológicos como poluidores, desenhados e criados de raiz ou simplesmente reciclados». Como sublinhou a curadora: «A invenção manual e o ready-made unidos como elos da mesma corrente.» (Ibid.)

Nesse sentido, a Nave do CAM foi convertida num pavilhão-fábrica, ao reunir num mesmo horizonte de organização espacial esculturas-objeto, que o recurso a um desenho expositivo solto contribui para libertar de exigências estéticas, criando um diálogo interativo entre a obra e o observador. Foram reunidos cerca de 170 trabalhos, realizados entre 1989 e 2011, setenta por cento dos quais exploram mecanismos técnicos na fronteira entre o lúdico e o científico.

Integraram a exposição várias obras inéditas produzidas em 2011: EclipseCréditoA MatinhaA Viagem Maravilhosa (modelo de avião em ferro, escala 1/10) e B-29 Super Fortress (kit de um bombardeiro, escala 1/72 – primeiro modelo pós-guerra construído em madeira).

Entre as máquinas que povoam o universo criativo do artista, o avião ocupa um lugar destacado. A mostra incluiu também uma série de modelos e réplicas, como a do avião F16 à escala 1/5; a do modelo de avião A380 na obra Navio Negreiro; ou a maquete do avião Airbus A330 à escala 1/200.

Também o automóvel é central no trabalho de Palma. Além da constante presença de miniaturas de carros, Exposição Solar é uma obra que apresenta em tamanho real um automóvel de corrida, apoiado numa base à altura dos visitantes. Os painéis solares dispostos no chão permitiam, através da luz dos projetores, acionar as rodas do carro.

No exterior do CAM, no Jardim, o artista quis mostrar um aquário na superfície do lago com um peixe, esbatendo assim as fronteiras entre o artificial e o natural. Todavia, a contestação de que foi alvo (acusado de causar sofrimento ao animal) obrigaria à retirada da obra.

A relação entre tecnologia e seres vivos estava igualmente presente noutras obras, nomeadamente, em Osmosis, composta por três aquários ligados entre si («Linha de Montagem. Miguel Palma», Newsletter FCG, n.º 122, abril 2011, pp. 19-20).

A maquete da instalação Rescue Games, criada para a Bienal de Nova Orleães (2008), é um dos trabalhos centrais de Miguel Palma. Segundo Isabel Carlos «tornou-se claro logo no início do processo desta exposição» a necessidade de integrar Rescue Games na antológica, «e sobretudo possibilitar ao público português o conhecimento de uma das obras mais paradigmáticas de Palma» (Carlos, Miguel Palma. Linha de Montagem, 2011, p. 25).

Pela sua escala e complexidade, tanto conceptual como técnica, a obra mereceu que se lhe dedicasse um texto no catálogo da exposição, assinado pelo crítico e curador de arte Dan Cameron. Cúmplice de Palma no longo processo que levou à concretização de Rescue Games, o autor do texto reflete acerca da relação do Homem com a tecnologia.

A exposição contou com um largo programa de atividades complementares. Foram realizadas visitas guiadas, orientadas por Isabel Carlos e por Miguel Palma, integradas no ciclo «Encontros ao Fim da Tarde». Susana Anágua assegurou a organização das visitas «Osmosis» e «Already Made», no âmbito do programa «Uma Obra de Arte à Hora de Almoço»; assim como as «Visitas para Cientistas: Um Outro Olhar sobre a Exposição “Linha de Montagem – Miguel Palma”», e ainda várias visitas guiadas incluídas nos ciclos «Domingos com Arte».

A cargo de um investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), foi também realizada a visita «Um Cientista no CAM». A par destas visitas, realizou-se a palestra «Programa C2: Um Artista no IGC», conduzida pelo artista; e ainda o curso teórico «A Arte, as Máquinas e a Vida», orientado por Magda Henriques, e o curso prático «Mecanismos e Engenhos Simples: Quando a Arte Incorpora o Movimento», assegurado por Susana Anágua.

Editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, o catálogo da exposição foi publicado em edição bilingue, em português e inglês. Profusamente ilustrado, contém a reprodução de diversas obras do artista, e inclui textos de Teresa Gouveia, administradora da FCG, Isabel Carlos, Michael Asbury (crítico e curador de arte) e Dan Cameron.

O acolhimento por parte da crítica especializada foi positivo. A título exemplificativo, destacamos as impressões de alguns autores.

No seu texto, Patrícia Barreira redige uma atenta análise de várias obras de Miguel Palma. Sobre a natureza da exposição, a autora destacou: «Esta tentativa de criar um laboratório de ideias é visível também pelas características dos trabalhos apresentados através da marcada presença de esboços projectuais e de maquetes que acompanham a concretização de um raciocínio. Esta aparente mostra de inventos, inserida numa sala de exposição, devolve um desequilíbrio instável e confuso na experiência do observador pela existência de um desvio no sentido comum e natural dos objectos.» (Barreira, Arte Capital, 15 abr. a 3 jul. 2011)

O diretor do blogue internacional Art F City, Paddy Johnson, considerou a exposição no CAM uma das melhores mostras retrospetivas que vira em Lisboa: «The show also achieves much the same result as a mid-career retrospective, the arranged objects illuminating the artist's process and enduring concerns; his tendency to work on many piece at once […]; his interest in the artificial and the real as represented by nature and technology; and yes, an unwavering interest in play […]. As Palma is a good friend of the blog, I'm likely biased, but “Assembly Line” is also the best solo museum show I've seen in Lisbon.» (Johnson, Art F City, 21 jun. 2011) No mesmo texto, é referida uma entrevista concedida pelo artista a Paddy Johnson, na qual Miguel Palma esclarece todo o planeamento que antecedeu a exposição, desde a sua conceção primária ao projeto final. Refletindo sobre o esquema de apresentação escolhido, o artista refere: «The difference with this exhibition – compared with most museum shows – is that there's not such an emphasis on showing the pieces as individual works. You can see too much. You can see more than is supposed to be shown. It's more like my studio – it's more a way of showing how I work.» (Ibid.)

Na sequência da exposição, a FCG adquiriu a Miguel Palma a escultura 5,6 Horas de Fôlego (2011) (Inv. 11E1638), que integrou a coleção do Centro de Arte Moderna.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

5,6 Horas de Fôlego

Miguel Palma (1964-)

5,6 Horas de Fôlego, 2011 / Inv. 11E1638


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

mai 2011 – jun 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

mai 2011 – jul 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

mai 2011 – jul 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Programa C2

abr 2011 – jun 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
abr 2011 – jun 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Instituto Gulbenkian Ciência
Lisboa, Portugal
Curso

A Arte, as Máquinas e a Vida

28 mai 2011 – 29 mai 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Oficina / Workshop

Mecanismos e Engenhos Simples. Quando a Arte Incorpora o Movimento

4 jun 2011 – 5 jun 2011
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Miguel Palma
Miguel Palma (à esq.), Emílio Rui Vilar (à dir.)
Miguel Palma (à esq.), Emílio Rui Vilar (ao centro) e Teresa Gouveia (à dir.)
Carlos Gonçalinho, Rita Lopes Ferreira, José António Nunes de Oliveira (da esq para a dir.) e Patrícia Rosas (dir.)
Cristina Sena da Fonseca

Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01135

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação referente à aquisição de uma obra de Miguel Palma para a coleção do Centro de Arte Moderna da FCG. 2011 – 2011

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00648

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação referente ao empréstimo de obras. 2010 – 2011

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00649

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação referente ao empréstimo de obras, contactos com colecionadores e planta da exposição. 2011 – 2011

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7786

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2011

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 7785

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2011


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