Exposição de fotografias de Josyane Cassaigne (1965) e Alain Cassaigne (1965), apresentada no Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), em Paris, e inaugurada em 24 de setembro de 2002.

No início do ano de 2002, a dupla de fotógrafos Josyane e Alain Cassaigne solicitou ao CCCG um apoio para a publicação de um livro de fotografia documental dedicado a Portugal e suas tradições culturais. Este foi o culminar de um projeto de cinco anos que envolvera várias viagens pelo território português, numa recolha centrada nos costumes, tradições e modos de vida. O pedido seria reencaminhado, com um parecer positivo, pelo diretor do CCCG, Francisco Bethencourt, para o administrador da FCG, José Blanco, que tinha a seu cargo o pelouro do Serviço Internacional.

O projeto não receberia qualquer subsídio por parte do Serviço Internacional, mas acabaria por ser apoiado, ainda que noutros moldes, pelo CCCG, onde foi realizado o lançamento do livro e teve lugar uma exposição que apresentava uma seleção das fotografias publicadas. Esta mostra, de curta duração, ocupou todo o piso térreo do CCCG. As fotografias impressas em médio formato foram dispostas por temática, não seguindo a estrutura do livro, no qual se encontram agrupadas por região.

Registos a preto-e-branco mostram o quotidiano das gentes que trabalhavam no campo ou no mar, mas também as festas e romarias de cada região. Recolhidos de norte a sul do país, entre 1997 e 2001, tais registos captam modos de vida há muito abandonados e tradições esquecidas de outros lugares. Foi justamente a busca pela tradição, por aquilo que distingue os portugueses, que moveu estes fotógrafos, inspirados pelo trabalho desenvolvido em Portugal na década de 1950 pelo fotógrafo Jean Dieuzaide, a quem Josyane e Alain Cassaigne prestam homenagem. Isso explica as imagens de Lisboa e do Porto, dos seus bairros, lojas, e habitantes, que parecem retratar outros tempos, sem nada que denuncie o final do século XX e o início do século XXI. Numa entrevista, Alain Cassaigne explica: «Pour obtenir ce que nous voulions, ces images qui sentent le passé, nous avons sillonné les campagnes, rarement les villes. Volontairement, nous n'avons pas exploré certaines régions qui ne sont pas représentatives du pays. Les plages touristiques et le bord des côtes ne nous intéressent pas.» (Cagnart, Chasseur d'Images, n.º 239, dez. 2001, p. 101)

Esta parece ser uma exposição que oscila entre o levantamento etnográfico e a nostalgia de um Portugal do passado, e isso é reconhecido e assumido pelos autores: «Le Portugal est encore dans une période charnière, qui risque de disparaître avant dix ans. C'est donc un regard nostalgique, mélancolique d'un passé traditionnel, avec des valeurs liées à la famille, au respect et à la tolérance. […] Avec ce travail, nous n'abordons pas les problèmes de la société actuelle. […] Nous travaillons avant tout sur une époque qui disparaît.» (Ibid.)

Mariana Roquette Teixeira, 2019