Raija Malka. Gymnasion

Exposição individual da artista finlandesa Raija Malka (1959), com a curadoria de Isabel Carlos. A mostra foi concebida especialmente para o espaço da Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna, visto pela artista como um ginásio para o exercício físico e mental e para uma reflexão sobre morte e vida.
Solo exhibition of work by Finnish artist Raija Malka (1959) curated by Isabel Carlos. The show was designed for the temporary exhibition space at the Modern Art Centre, which the artist envisioned as a gymnasium for physical and mental exercise, as well as a reflection on life and death.

Organizada pelo Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a exposição «Gymnasion» reuniu trabalhos da artista finlandesa Raija Malka (1959), residente em Lisboa. A mostra esteve patente de 15 de novembro de 2013 a 26 de janeiro de 2014, no Hall e na Sala de Exposições Temporárias, sob a curadoria de Isabel Carlos, diretora do CAM.

Toda a exposição foi concebida para a Sala de Exposições Temporárias a partir de uma visita prévia da artista a este espaço. De forte caráter cenográfico, pela colocação das peças como se de adereços de um espetáculo/jogo se tratasse, o visitante entrava na mostra como para um hipotético palco, com cenário, mas sem dramaturgia ou texto. Ideia expressa por Isabel Carlos a propósito da existência de uma escultura, uma enorme bola verde, logo na entrada da exposição, um primeiro gesto teatral que remetia quer para anteriores trabalhos cenográficos da artista, quer para a própria dimensão cénica de toda a mostra (Raija Malka. Gymnasion, FCG, 2013, p. 2).

À semelhança do título da exposição, os títulos das obras – Tie Break, Drop Shot, Chamber Play, Dumbbells, Skill Playing Ball – e as geometrias nelas representadas sugeriam movimento, exercício físico, apesar da ausência de corpos nas telas pintadas a óleo, levando o visitante de novo para um palco, ou campos de jogos imaginários, onde os únicos corpos existentes são as caixas, as rampas, as plataformas e as bolas representadas nas pinturas e na forma escultórica.

Referindo-se à ausência de figuras, das quais apenas restam as ações, Paulo Pires do Vale destacou o lado fantasmagórico da exposição: «O corpo que não aparece nas pinturas esvaziadas, do ginasta ou do ator; os corpos em movimento e escondidos dos jogadores de ténis, de quem escutamos o barulho, mas que não vemos. Deste modo, o esvaziamento destes espaços não é completo, parecendo ficar uma sombra, um eco.» (Raija Malka. Gymnasion, 2013, p. 49) Essa ressonância, em grande medida produzida pelo som dos ténis a deslizar no chão e da bola a bater nas raquetes, aludia à presença de jogadores, preenchendo o tempo e o vazio, num «exercício de perceção consciente do espaço», onde «entre uma e outra pancada, nesse tempo, escutamos o próprio espaço. Medimos o tempo como um percurso entre dois polos, os dois extremos opostos da sala» (Ibid.).

O som, uma sonoplastia que a artista registou a partir de um jogo de ténis realizado propositadamente para este trabalho, saía de um dispositivo negro e misterioso, junto ao qual se encontrava a pintura The Island of Dead segundo Arnold Böcklin (1994), de Fernando Calhau, pertencente à Coleção Moderna da FCG. Juntamente com L'Origine du monde (1866), de Gustave Courbet (reproduzido no catálogo da exposição), esta pintura, na sua versão original de 1880, pintada por Arnold Böcklin, foi uma das referências da história da arte que serviram e influenciaram o trabalho de Raija Malka, embora «mais como uma espécie de estado mental, de pensamento induzido, de quadro conceptual e menos como referentes concretos ou figurativos da pintura pintada pela artista» (Raija Malka. Gymnasion, 2013, p. 2).

A colocação inesperada desta obra na exposição alterava o possível significado inicial da referência a um mero espaço de ginásio para uma metáfora da vida, na qual, antes de se chegar ao fim que é a morte «temos “Gymnasion”, muito exercício, muitos passos, muitas corridas, muitas bolas batidas, muito campo para percorrer», como evidencia Isabel Carlos no texto do catálogo (Raija Malka. Gymnasion, 2013, p. 9).

Como na Grécia Antiga, o ginásio de Raija Malka não era apenas um espaço de exercício físico, mas também um lugar «para muscular o espírito», um espaço para «uma reflexão nomeadamente sobre a vida e a morte, sobre o corpo e a sua finitude», sublinhava Isabel Carlos, traçando um paralelismo entre as aulas e as discussões filosóficas ocorridas nestes lugares da Antiguidade e as reflexões suscitadas pela exposição (Ibid.).

A obra de Malka foi definida pela curadora, no texto do catálogo da exposição, como pintura-pintura, para a qual a artista «não se socorre de narrativas complexas, de citações e apropriações, da paisagem ou do retrato para comunicar, mas somente da pintura, numa espécie de estado puro e absoluto: cor, perspetiva e uma meia dúzia de formas quase sempre geométricas» (Raija Malka. Gymnasion, 2013, p. 8).

A inauguração da exposição coincidiu com a segunda sessão do ciclo de conferências sobre modernismo organizado pelo CAM. Para divulgação da exposição, foi criado um teaser a preto-e-branco em que duas pessoas, Pedro Cartaxo e Fernando Sassetti, jogam ténis na Galeria de Exposições Temporárias do CAM, jogo do qual se reproduzia o som na exposição. Foram ainda realizadas as visitas «À Conversa com a Curadora. Isabel Carlos e Raija Malka» e «Domingos com Arte», guiadas pela curadora e por Hugo Barata.

A exposição foi divulgada nos meios de comunicação, nomeadamente na revista Umbigo, na revista online de cultura, lazer e viagens Canela & Hortelã e no Diário de Notícias.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

The Island of Dead segundo Arnold Böcklin

Fernando Calhau (1948-2002)

The Island of Dead segundo Arnold Böcklin, 1994 / Inv. 06P1264


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

À Conversa com a Curadora. Isabel Carlos e Raija Malka

nov 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

nov 2013 – dez 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00673

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém fichas de conceção de exposições temporárias, listas de obras, orçamentos, relatório final, maquetas das brochuras, guias de remessa, «loan forms», correspondência por e-mail, currículo da artista e relatórios do estado de conservação de obras de arte. 2012 – 2014

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 5351

Coleção provagrafia, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2013


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