Narelle Jubelin. Plantas & Plantas

Exposição individual da artista australiana Narelle Jubelin (1960). Remetendo para o duplo sentido de planta, enquanto elemento do reino vegetal e desenho arquitetónico (conceitos que percorrem a sua obra), Narelle Jubelin apresentou um conjunto de trabalhos realizados durante uma década.
Solo exhibition on Australian artist Narelle Jubelin (1960). The show centred on the double meaning of the word “planta”, which in Portuguese can refer to either a plant or an architectural plan, and both themes were present throughout Jubelin’s work. The display featured a selection of works produced over a decade.

«Plantas & Plantas» reuniu um conjunto de trabalhos de um dos nomes mais importantes da arte contemporânea australiana, Narelle Jubelin (1960). A exposição, sob curadoria de Isabel Carlos, então diretora do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), esteve patente ao público de 18 de janeiro a 31 de março de 2013, ocupando a Nave, o Hall e as Salas A e B do CAM. Na inauguração estiveram presentes Artur Santos Silva, presidente da FCG, e Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura.

O público pôde apreciar trabalhos realizados nos dez anos que antecederam a exposição, definida por Narelle Jubelin da seguinte forma: «"Plantas & Plantas" is really quite a tentative work in progress survey as much grounded in the research and note taking; the first wave of digesting the field trips (as were the curtain and Stendhal syndrome stacks) and just beginning to think through the northern territory and Timor-Leste mobile residency visits; it really documents the state of play in my work and a collation of investigations into modernist paradigms and their inextricable relations to hand woven, hand printed and hand embroidered cloth.» (Memória descritiva, 20 nov. 2012, Arquivos Gulbenkian, CAM 00671)

As obras expostas em «Plantas & Plantas» abrangiam uma geografia extensa, que incluía Austrália, Timor-Leste, Europa e Estados Unidos da América, locais onde a artista viveu e trabalhou e que revisitou para estabelecer pontos de contacto e contraste entre Ocidente e Oriente.

O título em português da exposição (no original «Plants & Plans») jogava com o duplo sentido que a palavra planta pode assumir, significando tanto um elemento do reino vegetal como a planta de um edifício, e evocando a tradução como um dos pontos basilares para a compreensão da obra de Narelle Jubelin, usada como forma de reflexão sobre a arquitetura doméstica modernista e como conceito «que se aplica (não só) à linguagem escrita e falada mas a toda a produção e criação humana» (Narelle Jubelin. Plantas e Plantas, 2013, p. 27).

A exposição apresentou trabalhos realizados em diversos suportes – têxtil, vídeo e fotografia –, resultantes de uma série de interrogações da artista sobre a cultura dos países colonizados, nomeadamente sobre a sua origem e sobre o papel do colonialismo na sua definição.

No entanto, em vez de tratar estas questões através de meras referências, Narelle Jubelin quis levar para o espaço expositivo trabalhos de artistas aborígenes australianas, como Emily Kaybbrim, Graham Badari e Jean Baptiste Apuatimi, e tais (tecidos ou peças de roupa obtidos por tecelagem tradicional) produzidos por artesãos timorenses. Estes trabalhos, colocados sobre grandes tubos de drenagem, constituíam a instalação Grey Nomads, que evocava o trabalho Sun Tunnels (1976), de Nany Holt. A instalação ocupou o espaço da Nave do CAM, ao lado da projeção do vídeo Queen (2012), que dava a conhecer a conceção destes têxteis, contextualizando-os com registos fílmicos da performance da pintora abstrata Jean Baptiste Apuatimi, na inauguração da exposição anual do Tiwi Art Network, e da tecelagem de um tais por Domingas Soares.

Segundo Jo Holder, Grey Nomads simbolizava também uma passagem entre vida e morte, nascer e pôr do sol, tendo como ponto de partida o conceito australiano de grey nomads, para descrever «uma viagem mais alargada, onde se investigam as obrigações e costumes comuns no interior de uma particular economia moral pós-colonial» (Narelle Jubelin. Plantas e Plantas, 2013, p. 54).

Antes desta instalação, o percurso expositivo era iniciado com Uma Floresta para os Teus Sonhos (1970), do artista português Alberto Carneiro (1937-2017), expressando assim a vontade de Narelle Jubelin de estabelecer uma relação entre o seu trabalho e a arte portuguesa contemporânea. Além da partilha de temas com a obra dos artistas aborígenes, como o tema da terra natal e do sonho, os troncos da instalação de Alberto Carneiro são semelhantes a troncos de eucalipto, a árvore nativa da Austrália mais comum, que na exposição de Narelle surgia bordada e emoldurada em Owner Builder of Modern California House (2001-2013), no contexto de um trabalho que parte de um conjunto de fotografias em torno da construção da casa de família da artista. Mas não era só aqui que o eucalipto surgia referido: também protagonizava um papel essencial em The Third Space (2012-2013), revestindo o chão de uma floresta, e em Albers.Seidler Establishing.Shots (2012-2013/Inv. 14IM69), como cenário da casa do arquiteto Harry Seidler. Este último vídeo, pertencente à Coleção Moderna da FCG, explora a relação entre o arquiteto austríaco Harry Seidler e o pintor alemão Josef Albers, incluindo excertos de filmes sobre ambos, assim como algumas imagens da exposição «Josef Albers na América – Pintura sobre Papel/Roubar com os Olhos», que teve lugar no CAM em 2012.

A colaboração de Narelle Jubelin com outros artistas foi uma característica constante dos trabalhos apresentados em «Plantas & Plantas», como no caso de Owner Builder of Modern California House (2001-2013), fruto da colaboração de Jubelin com o arquiteto Marcos Corrales Lantero. A obra remete para a noção de casa enquanto local físico e psicológico, textual, material, instável e mutável, na construção da qual toda a comunidade é envolvida. Para esta instalação, foram concebidas peças modulares de mobiliário, feitas a partir de plástico e aço reciclados, sobre as quais foram colocados diversos objetos, como duas maquetas e uma sequência de trabalhos em petit-point emoldurados. O petit-point é uma das técnicas mais utilizadas pela artista e assume protagonismo enquanto marca autoral que vem sendo desenvolvida desde o final de 1980, juntando-se a uma multiplicidade de técnicas e referências culturais que caracterizam o seu trabalho.

O vídeo é utilizado por Narelle Jubelin como forma de aprofundar a relação entre arquitetura e paisagem e de revisitar o modernismo e a história do colonialismo europeu, cruzando todos estes temas com a sua história pessoal. Exemplo disso foram os vídeos expostos Stendhal Syndrome (2011), onde a artista, acompanhada por Marcos Corrales e dois estudantes da Bauhaus, desfalecia e tombava várias vezes de seguida, ao apreciar a casa construída por Walter Gropius (1883-1969), e Ilford (horizontal) e Ilford (vertical), estes constituídos por diversas imagens intercaladas com textos alegóricos, comentários culturais, listas e diagramas da autoria de Walter Benjamin, figura cuja presença é também evocada em The Third Space (2012-2013). Neste vídeo, que regista a plantação de árvores numa zona historicamente marcada por incêndios florestais, a artista surge a transcrever, numa superfície vidrada, notas de rodapé retiradas de Space as Praxis, de RoseLee Goldberg.

A construção das peças de mobiliário modulares presentes em Owner Builder of Modern California House encontrava-se em consonância com o projeto inicial da exposição, que concebia a sua possível itinerância, apesar de não ter sido possível apurar se esta chegou a ser realizada. Neste sentido, foram criadas estruturas que facilitariam o seu transporte, proporcionando a criação de novos debates desencadeados pela colocação dos mesmos objetos em locais diferentes. Também a escala da exposição era adaptável a cada sítio, podendo assumir uma dimensão de 150 a 500 metros.

A divulgação da exposição passou essencialmente pela sua inserção no plano de comemorações dos trinta anos do CAM, com algumas referências em meios de comunicação social e plataformas online de arte. Na ArtFacts.Net, por exemplo, é referido que «Plantas & Plantas» criou um diálogo, por vezes imbuído de uma certa tensão, entre os trabalhos apresentados e a arquitetura do museu.

No âmbito da exposição, foi criado um programa de visitas guiadas, pela artista e pela curadora, e cursos orientados por Magda Henriques e Sara Franqueira, que visaram um maior contacto entre o público e a arte contemporânea e, nomeadamente, com os conceitos de lugar e de experiência do espaço.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Albers. Seidler Establishing. Shots, 2012-13

Narelle Jubelin (1960- )

Albers. Seidler Establishing. Shots, 2012-13, 2012-13 / Inv. 14IM69


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

jan 2013 – mar 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Curso

Traços da Contemporaneidade. Espaços de Encontro

jan 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Curso

A Arte Contemporânea e a Construção de Lugares e Experiências

fev 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Curso

A Obra de Arte como Espaço de Encontro. Estratégias de Relacionamento

2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

jan 2013 – mar 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

mar 2013
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Narelle Jubelin
Isabel Carlos (à esq.), Eduardo Marçal Grilo (à dir.)
Narelle Jubelin e Artur Santos Silva
Teresa Gouveia e Marina Bairrão Ruivo
Isabel Carlos, Jorge Barreto Xavier, Narelle Jubelin, Artur Santos Silva, Teresa Patrício Gouveia (à frente, da esq. para a dir)
Isabel Carlos, Jorge Barreto Xavier, Narelle Jubelin, Artur Santos Silva e Teresa Patrício Gouveia (da esq. para dir.)
Narelle Jubelin (à esq.), Jorge Barreto Xavier (ao centro) e Artur Santos Silva (à dir.)
Teresa Patrício Gouveia (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00671

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém orçamentos; textos do catálogo; correspondência interna e externa; «condition reports» e «loan forms». 2012 – 2013

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 5214

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2013

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 5215

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2013


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