Arshile Gorky. Hommage

Iniciativa «Arménie, Mon Amie. L'Année de l'Arménie en France»

Exposição temporária dedicada à obra do artista arménio Arshile Gorky (1904-1948), organizada pelo Centre Pompidou em parceria com o Centre Culturel Calouste Gulbenkian. Ocupando estes dois espaços, a mostra permitiu apresentar pela primeira vez ao público parisiense um extenso conjunto de obras de Gorky, cedidas por diversas coleções internacionais.
Temporary exhibition dedicated to the work of Armenian artist Arshile Gorky (1904-1984) and organised by the Centre Pompidou in partnership with the Centre Culturel Calouste Gulbenkian. Staged at both venues, the show allowed for an extensive selection of Gorky’s works to be displayed to the Parisian public, on loan from several international collections.

Exposição de homenagem a Arshile Gorky (1904-1948), realizada pelo Centre Pompidou em parceria com o Centre Culturel Calouste Gulbenkian, coexistindo nestes dois espaços.

A mostra foi realizada no âmbito do programa «Armenie, mon Amie. Année de l'Arménie en France», iniciativa do governo francês e da República da Arménia, através da Embaixada da Arménia em França. «Armenie, mon Amie» aconteceu entre 21 de setembro de 2006 e 14 de julho de 2007, coincidindo com o trigésimo aniversário do Centre Pompidou, e foi comissariada por Vigen Sargsyan e Nelly Tardivier-Henrot, aos quais se juntaram prestigiosas entidades, como o Musée du Louvre, o Musée d'Orsay e a Bibliothèque Nationale de France.

«Arshile Gorky. Hommage» foi comissariada por Ana Vasconcelos, curadora do CAMJAP, e Agnès de la Beaumelle, curadora do Centre Pompidou, e contou com uma extensa equipa técnica para cada espaço. O grande número de peritos envolvidos na produção da exposição denota a importância atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Centre Pompidou à concretização desta iniciativa. A exposição contou com o patrocínio da Alain Mikli, marca de óculos de sol e acessórios do designer franco-arménio Alain Mikli.

Segundo Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da FCG, desde o final da década de 1990 que a vida e o trabalho de Arshile Gorky têm despertado um grande interesse, através da publicação de uma série de biografias do artista assinadas por Nouritza Matossian, Matthew Spender e Hayden Herrera. Na FCG, o interesse pela obra de Gorky data, pelo menos, de 1985, ano em que uma pintura e dois desenhos da sua autoria foram adquiridos e incorporados na coleção do Centro de Arte Moderna. Estas obras foram apresentadas no Centre Pompidou.

No Centre Culturel Calouste Gulbenkian, foram apresentados 25 trabalhos sobre papel, todos eles pertencentes ao acervo da Eastern Diocese of the Armenian Church of America, em Nova Iorque, que ainda hoje se encontra em depósito na FCG. Este conjunto de desenhos passou para a posse da Armenian Church após a morte de Vartoosh Mooradian, irmã do artista. Além da Diocese, outras entidades, como o Museum of Modern Art e o Whitney Museum, de Nova Iorque, e a Tate Modern, de Londres, contribuíram com o empréstimo de obras para a mostra, que foi a primeira apresentação pública com esta dimensão em Paris de trabalhos de Gorky.

A importância da exposição no contexto do «Armenie, mon Amie» levou a que Vigen Sargsyan e Nelly Tardivier-Henrot declarassem que sem a exposição, «“Arménie, mon amie” n'aurait pas tenu toutes ses promesses» (Arshile Gorky. Hommage, 2007, p. 9).

Segundo Alfred Pacquement e Agnès de la Beaumelle, esta exposição deu a oportunidade ao público francês, que não podia viajar para os Estados Unidos da América (país onde se encontrava o maior número de trabalhos de Gorky), de travar conhecimento com a obra deste artista mal representado no acervo do Centre Pompidou, compensando assim uma lacuna da sua coleção. Alfred Pacquement e a comissária da exposição confessaram também que esta não era ainda a retrospetiva ideal, que esperavam que fosse realizada um dia, apelidando, como tal, esta exposição de «homenagem»: «C'est là, non la rétrospective qu'il serait souhaitable de réaliser un jour, mais un hommage appuyé, qui prend place aujourd'hui au début du parcours du nouvel accrochage des collections.» (Ibid., p. 13)

O percurso da exposição no Centre Culturel Calouste Gulbenkian propôs uma leitura dos 25 desenhos figurativos e abstratos a partir das diferentes épocas de criação, influências e fases de experimentalismo. Pretendeu-se mostrar a evolução do trabalho de Gorky, através da múltipla utilização de materiais e técnicas de representação, desde a sua aprendizagem com grandes artistas seus contemporâneos até ao momento em que se liberta e cria uma linguagem pessoal.

Alguns desenhos relacionavam-se com outras obras, expostas no Centre Pompidou, ou eram mesmo estudos preparatórios para pinturas, como Portrait de Vartoosh (1927). Outros desenhos assinalavam as grandes áreas de estudo e de influência na obra de Gorky, como as séries Youth's Comrades, onde a influência de Miró é percetível, ou Chalice Mother (1937), onde é clara a presença de Picasso. Desenhos como Armenia's Khorkom Dream (1937-1940) e Armenia's Van Dream (1938), oferecidos a Karlen Mooradian, eram o testemunho de um lado mais intimista da sua obra e de memória nostálgica ligada à sua terra natal.

O percurso da exposição no Centre Pompidou seguia uma ordem cronológica, sendo o seu percurso iniciado pela obra Nighttime, Enigma and Nostalgia (1930-1933), resultado de um sentimento de perda que se mantém nos restantes trabalhos.

Os trabalhos mais antigos apresentados datavam da década de 20, altura em que o processo artístico de Gorky passava pela imitação de pinturas de artistas como Picasso, Cézanne, Braque, Léger e De Chirico. As obras selecionadas mostravam também a influência de Miró e Kandinsky, aos quais foi buscar a intensidade dos jogos cromáticos e a fluidez da composição de elementos perdidos no espaço, através dos quais encontrou uma forma lírica de gravar momentos da sua memória.

A representação de criptogramas que fluem no espaço, pintados a partir da década de 1940, como em Waterfall (1943), funcionava como uma metáfora para o fluxo da vida e antecipava a introdução de formas biomórficas e híbridas, que misturavam a figura humana com o mundo vegetal, que passariam a integrar o seu trabalho com o intuito de criar uma obra viva e orgânica. Os trabalhos produzidos nesta altura encontraram na figura de André Breton um dos únicos críticos a entender e a estimular a criatividade de Gorky, ao escrever que «pour la première fois, la nature est traitée ici à la façon d'un cryptogramme sur lequel les empreintes sensibles antérieures de l'artiste viennent apposer leur grille, à la découverte du rythme même de la vie» (Arshile Gorky. Hommage, 2007, p. 12).

A iniciativa apresentou Arshile Gorky como um dos mais originais, e ainda assim pouco reconhecidos, pintores norte-americanos e uma das últimas grandes figuras do surrealismo, ao mesmo tempo que autor de um trabalho preambular do expressionismo abstrato norte-americano.

O catálogo editado pelo Centre Georges Pompidou, em versão bilingue (francês/inglês), contém a reprodução das pinturas e desenhos expostos, acompanhados por textos da década de 1940 de críticos como André Breton e Clement Greenberg. O catálogo apresenta ainda leituras sobre a vida e obra de Gorky da autoria de Éric de Chassey e Ana Vasconcelos.

A exposição foi divulgada na radiotelevisão francesa, que a classificou como très belle, dando uma grande relevância à biografia de Arshile Gorky. Ana Vasconcelos e João Pedro Garcia, diretor do Centre Culturel, deram entrevistas aos canais Aligre FM e RFI Lusophone, reforçando a importância da obra de Gorky para a história da arte. Para o programa da RFI Lusophone, João Pedro Garcia referiu ainda que o papel do Centre Culturel para «Arménie, mon Amie» não se limitou à produção da exposição, uma vez que subsidiou também o catálogo da exposição de manuscritos arménios que teve lugar na Bibliothèque Nacionale de France.

A divulgação e análise crítica da exposição foi extensa, como mostra o clipping dos 36 periódicos reunidos, além dos três artigos encontrados na imprensa estrangeira e dos vários anúncios e artigos retirados da Internet.

Periódicos como Le Quotidien du Médicin referiram-se à exposição do Centre Culturel como um bom exercício de leitura e análise do percurso artístico de Gorky, que tornou claro o método de aprendizagem utilizado pelo artista no início da sua carreira: «On découvre avec intérêt la méthode d'apprentissage que Gorky utilise dès les années 1920: inlassablement, le peintre scruta, recopia, s'appropria les œuvres, les styles et les techniques de Miró, Picasso, Cézanne, Braque, Kandinsky, avec une capacité inouïe de compréhension et de mémorisation.» (D.T., Le Quotidien du Médicin, 13 abr. 2007, [s.p.])

O artigo presente no Le Monde, assinado por Philippe Dagen, terminava a lembrar que esta exposição não era uma perspetiva do modo como se iria realizar em 2009, em Filadélfia, com itinerância na Tate Modern de Londres, questionando-se: «Et pourquoi pas, enfim, à Paris?» (Dagen, Le Monde, 6 abr. 2007, p. 26)

Num exercício de comparação entre as duas exposições – do Centre Culturel Calouste Gulbenkian e do Centre Pompidou –, Anahid Samikyan aconselhava quem tivesse a intenção de visitar ambas a começar pela mostra de desenhos, não apenas pela questão cronológica, mas principalmente por oferecer «une approche plus intime du peintre et permet de mieux saisir sa sensibilité alors que l'exposition de Beaubourg inscrit l'œuvre d'A. Gorky dans un vaste ensemble de grands peintres abstraits qui l'absorbe et la rend plus anonyme» (Samikyan, Achkar, 21 abr. 2007, p. 26).

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Sem título (Paisagem da Virgínia)

Arshile Gorky (1904-1948)

Sem título (Paisagem da Virgínia), Inv. 85DE139

Vale dos Arménios

Arshile Gorky (1904-1948)

Vale dos Arménios, Inv. 85DE138


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

António Coimbra Martins (à esq.) e Emílio Rui Vilar (à dir.)
Patrícia Rosas (à esq.) e Jorge Molder (à dir.)
Mougouch Fielding (atrás, à esq.), Natasha Gorky (ao centro), Cosima Spender (à dir.) e Matthew Spender (atrás, à dir.)
António Monteiro (à esq.) e António Coimbra Martins (à dir.)
Maro Gorky (à esq.) e Ana Vasconcelos (à dir.)
Júlio Pomar (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05367

Pasta com documentação referente à produção a exposição. Contém correspondência interna e externa, material para o catálogo, lista de obras das exposições «Vieira da Silva» e «Arshile Gorky. Hommage», orçamentos, seguros, listas de convidados, clipping de imprensa. 2006 – 2007

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 51703

Coleção fotográfica, cor: aspetos (CCCG, Paris) 2007

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 51654

Coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 2007


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