O Fio Condutor. Desenhos da Colecção do CAM

Comemorações do Centenário da República

Exposição coletiva, com curadoria de Leonor Nazaré, que juntou 42 trabalhos de desenho de 16 artistas pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna. Nesta mostra foi dado a ver o percurso de um fio imaginário que cruzou linhas, traços e riscos, no favorecimento de diversas interpretações artísticas da escrita e do desenho.
Collective exhibition curated by Leonor Nazaré featuring 42 drawings by 16 artists in the CAM collection. The show traced an imaginary thread that traversed lines and marks in the diverse artistic interpretations of drawn and written works.

Exposição coletiva organizada pelo Centro de Arte Moderna (CAM), com curadoria de Leonor Nazaré. A mostra teve três apresentações públicas: na Galeria de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna, em Lisboa, entre janeiro e abril de 2010; no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, entre abril e maio de 2010; e, passados seis anos, na Galeria de Exposições do Centro de Arte de Ovar, entre fevereiro e abril de 2016.

Incluiu 42 trabalhos de 16 artistas da coleção do CAM: Alexandre Conefrey, Ana Hatherly, António Palolo, Artur Rosa, António Sena, Derek Boschier, Helena Almeida, João Vieira, Joaquim Bravo, Jorge Martins, José Loureiro, Pedro Calapez, Rui Moreira, Ruy Leitão, Teresa Henriques e Zao Wou-Ki.

O desenho foi o denominador comum das obras selecionadas, o qual seria igualmente convocado no traço e na linha que integravam as três peças tridimensionais presentes na mostra: Estensão (2005), de Teresa Henriques; Evolução de um Triângulo numa Malha Logarítmica (1996), de Artur Rosa; e Torah (1973), de Ana Hatherly.

A obra de Teresa Henriques pôs em foco a ação da escrita a partir de uma palavra específica: «estensão» (e não «extenção»), com o intuito de sublinhar o verbo «ser» e o vocábulo «tensão», tal como explica Leonor Nazaré no caderno da exposição (O Fio Condutor. Desenhos da Colecção do CAM, 2010, p. 3).

O trabalho de Ana Hatherly, Torah, dava a ver o modo como «o espírito das palavras define a natureza das formas» e, tal como a Tora onde Maomé escreveu os cinco livros, esta lembrava a «sua vocação de narrativa fundadora e transmissível nessa sequência lenta e maturada que faz pressentir no seu objecto» (Ibid.).

No artigo que dedica à exposição, Cláudia Almeida, jornalista da revista Visão, alude à sugestão da curadora: iniciar o discurso deste «fio condutor» pela direita e na sucessão de oito fotografias de Helena Almeida, Desenho Habitado (1997), onde o «espaço do desenho é […] habitado pelo corpo» (Ibid., p. 1).

O conjunto de obras expostas proporcionou um entendimento da linha enquanto estrutura fundamental do desenho, aquela que regista a forma, a direção e uma ideia. Numas obras – como no caso de Ana Hatherly –, a linha desmultiplica-se no movimento impresso pelos sinais caligráficos; noutras, a linha desenhada deriva em paisagens áridas, como em Alexandre Conefrey, em geometrias abstratas, como em Ruy Leitão, Rui Moreira ou José Loureiro ou em composições coloridas como as de Dereck Boshier.

Foram publicados dois cadernos: o primeiro refere-se às exposições de Lisboa e de Paris; o segundo acompanhou a mostra no Centro de Arte de Ovar. A capa, com a reprodução de um desenho de Joaquim Bravo, e o ensaio da autoria de Leonor Nazaré são comuns às duas publicações, assim como algumas reproduções.

No texto «Linhas de Força», a curadora segue o percurso deste «fio condutor» que interliga os vários desenhos da coleção selecionados. Começa pela linha fina das fotografias de Helena Almeida, para posteriormente ir ganhando dimensão, à medida que se avança na galeria, prevendo destinos mais elaborados, geométricos, abstratos e volumétricos (O Fio Condutor. Desenhos da Colecção do CAM, 2010, pp. 1-4).

O conjunto de 20 desenhos pertencentes à série O Fazer Suave de Preto e Branco, de Jorge Martins, dava continuidade ao traço de Helena Almeida, numa sequência imaginária, interrompida na obra de Zao Wou-Ki, que substituía a linha pela mancha, ou nas grandes composições pictóricas de Dereck Boshier, nas quais a «sensação de compressão é acompanhada pela de flexibilidade, apesar do perímetro a que a figura se restringe» (Ibid.).

«O fio que até aqui nos conduziu foi início do desenho, manifestação de trama espacial, lugar de crescimento da pintura, enovelamento e gesto livre, agitação vibrátil, estiramento, percussão na paisagem, sinalética rudimentar e figuração da escrita. Foi alegoria da experiência de pensar, de riscar, de escrever, de estruturar e de contornar», escreveu Leonor Nazaré sobre o objetivo geral da exposição (O Fio Condutor. Desenhos da Colecção do CAM, 2010, p. 4).

Paralelamente, foram organizadas visitas guiadas e conversas, mediadas pela curadora com Ana Hatherly, Pedro Calapez e José Loureiro. Foram também realizados cursos teóricos e práticos sobre a técnica do desenho e oficinas dirigidas a um público mais jovem.

A título complementar, e no decurso da mostra no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, a curadora fez uma apresentação para alunos de uma escola francesa (l'Institut d'Études Supérieurs des Arts), na qual apresentou a coleção do CAM e explicitou a sua conceção da exposição.

A inauguração em Lisboa, no dia 21 de janeiro de 2010, contou com a presença do presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Rui Emílio Vilar.

Joana Atalaia, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

A oeste nada de novo

Alexandre Conefrey (1961-)

A oeste nada de novo, 1999 / Inv. DP1732

A oeste nada de novo

Alexandre Conefrey (1961-)

A oeste nada de novo, 1999 / Inv. DP1733

A oeste nada de novo

Alexandre Conefrey (1961-)

A oeste nada de novo, 1999 / Inv. DP1734

Escuta o conto profano

Ana Hatherly (1929-2015)

Escuta o conto profano, Inv. DP1770

Metáfora da "mão inteligente"

Ana Hatherly (1929-2015)

Metáfora da "mão inteligente", Inv. 04DP2003

O encontro

Ana Hatherly (1929-2015)

O encontro, Inv. DP1762

O mar que se quebra

Ana Hatherly (1929-2015)

O mar que se quebra, Inv. DP1769

Os anjos suspensos (homenagem a Borloch)

Ana Hatherly (1929-2015)

Os anjos suspensos (homenagem a Borloch), Inv. DP1761

Salva a Alma!

Ana Hatherly (1929-2015)

Salva a Alma!, Inv. DP1764

Título desconhecido

Ana Hatherly (1929-2015)

Título desconhecido, Inv. DP1465

Torah

Ana Hatherly (1929-2015)

Torah, (1973) / Inv. DP1669

Voar

Ana Hatherly (1929-2015)

Voar, Inv. DP1765

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1605

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1609

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1615

S/ Título

António Palolo (1946-2000)

S/ Título, 1992 / Inv. 92DP1616

H - 5

António Sena (1941- )

H - 5, 1979 / Inv. DP1410

P 3

António Sena (1941- )

P 3, 1979 / Inv. DP1084

A Pirâmide e o Papel Cortado

Artur Rosa (1926-2020)

A Pirâmide e o Papel Cortado, 1975 / Inv. DP1112

Evolução de um Triângulo numa Malha Logarítmica

Artur Rosa (1926-2020)

Evolução de um Triângulo numa Malha Logarítmica, 1966 / Inv. 94E342

s/título

Derek Boshier (1937-)

s/título, Inv. DE46

Desenho Habitado

Helena Almeida (1934-2018)

Desenho Habitado, Inv. FP379

Quatro

João Vieira (1934-2009)

Quatro, 1975 / Inv. DP2503

Chevalier bleu

Joaquim Bravo (1935-1990)

Chevalier bleu, (1972) / Inv. 00DP1794

s/título

Joaquim Bravo (1935-1990)

s/título, (1969) / Inv. DP1685

S/Título

Joaquim Bravo (1935-1990)

S/Título, (1972) / Inv. 00DP1793

sem título

Joaquim Bravo (1935-1990)

sem título, (1972) / Inv. 00DP1795

Da série "O Fazer Suave de Preto e Branco"

Jorge Martins (1940-)

Da série "O Fazer Suave de Preto e Branco", 1983 / Inv. 88DP1358

Da série "O Fazer Suave de Preto e Branco"

Jorge Martins (1940-)

Da série "O Fazer Suave de Preto e Branco", 1983 / Inv. 88DP1357

S/Título

Jorge Martins (1940-)

S/Título, 1987 / Inv. DP1231

S/Título

José Loureiro (1961-)

S/Título, 2004 / Inv. 04DP1950

S/Título

José Loureiro (1961-)

S/Título, 2004 / Inv. 04DP1949

Cena doméstica n.º 32

Pedro Calapez (1953-)

Cena doméstica n.º 32, 1998 / Inv. 99DP1754

Cena doméstica nº14

Pedro Calapez (1953-)

Cena doméstica nº14, 1998 / Inv. 99DP1755

S/Título

Rui Moreira (1971-)

S/Título, 2003-2004 / Inv. 05DP2422

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1944

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1945

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1946

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1942

S/Título

Ruy Leitão (1949-1976)

S/Título, Inv. DP1943

Estensão

Teresa Henriques (1978-)

Estensão, 2005 / Inv. 05E1365

Sem título

Zao Wou-Ki (1920-2013)

Sem título, 1984 / Inv. DE137


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontros ao Fim da Tarde

jan 2010 – mar 2010
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Curso

Do Traço à Linha. Da Teoria à Prática do Desenho

mar 2010
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Domingos com Arte

fev 2010 – abr 2010
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Uma Obra de Arte à Hora do Almoço

fev 2010
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Oficina / Workshop

Com que Linhas se faz um Desenho? Técnicas Artísticas para Não-artistas

mar 2010
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Ana Gomes da Silva (à dir.)
Carlos Gonçalinho (à esq.), Mariana Mira (ao centro) e Rosário Lourenço (à dir.)
Leonor Nazaré (à dir.)
Leonor Nazaré, Emílio Rui Vilar (à esq.), Isabel Carlos (ao centro) e Teresa Gouveia (à dir.)
Leonor Nazaré (à esq.), Emíio Rui Vilar (ao centro), Ana Vasconcelos (ao centro), Isabel Carlos (centro, dir.) e Teresa Patrício Gouveia (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.) e Leonor Nazaré (à dir.)
Isabel Carlos (à esq.) e Teresa Gouveia (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.) e Leonor Nazaré (à dir.)
Ana Vasconcelos (à esq.) e Isabel Carlos (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.) e Leonor Nazaré (à dir.)
Teresa Gouveia (à esq.), Isabel Carlos (ao centro) e Ana Vasconcelos (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.) e Leonor Nazaré (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.) e Leonor Nazaré (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Teresa Patrício Gouveia (ao centro) e Leonor Nazaré (à dir.), Isabel Carlos (atrás, dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00620

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de obras, orçamentos, seguros e correspondência com os artistas representados na mostra. 2009 – 2009

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 8665

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 2010

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 8664

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 2010


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