Ângelo de Sousa. Escultura

Exposição retrospetiva de escultura de Ângelo de Sousa (1938-2011), com curadoria de Nuno Faria. Integrou um conjunto de peças realizadas entre o final dos anos 50 e a década de 80, assim como também foram dados a conhecer projetos inéditos, desenvolvidos especificamente para esta exposição.
Retrospective exhibition of sculptures by Ângelo de Sousa (1938-2011) curated by Nuno Faria. The exhibition included a selection of works produced between the late 1950s and the 1980s, as well as new works created for the exhibition.

Após ter organizado em 2003 uma extensa retrospetiva de desenho de Ângelo de Sousa (1938-2011), intitulada «Transcrições e Orquestrações. Desenhos de Ângelo de Sousa», em 2006 a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) voltou a revisitar um dos mais determinantes artistas portugueses contemporâneos, desta feita dedicando-se a uma vertente nunca abordada exclusivamente nem com tal amplitude: a produção em escultura.

A retrospetiva «Ângelo de Sousa. Escultura» foi inaugurada no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), em fevereiro de 2006, voltando a contar com o comissariado de Nuno Faria, à semelhança do que sucedera na anterior mostra de desenho. A exposição resultou da cumplicidade entre o comissário e o artista, que colaborou ativamente na escolha das obras e na conceção da exposição.

Ângelo de Sousa foi um protagonista fundamental da cena artística portuguesa desde a década de 1960. Artista de múltiplas valências, a sua obra foi desenvolvida nas mais diversas linguagens artísticas, incluindo a pintura, a escultura, a instalação, o desenho, a gravura, a serigrafia, a cerâmica, a fotografia, ou ainda o cinema experimental. Esta fecundidade artística desenvolveu-se, além do mais, paralelamente à docência. A sua longa carreira foi pautada por uma série de exposições individuais e coletivas. A presente mostra realizou-se na sequência de uma série de exposições dedicadas ao artista: uma retrospetiva na Casa de Serralves/CCB em 1992; e duas antológicas, uma no Museu de Serralves (fotografia, filme vídeo) em 2001, outra no CAM (desenho) em 2003.

Num dos textos que assina para o catálogo da exposição, o então diretor do CAMJAP, Jorge Molder, refere: «Quando trabalhámos na preparação da exposição de desenho de Ângelo de Sousa realizada no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão […] tornou-se-nos claro a necessidade de percorrer, explorar e mostrar o lado da escultura da obra deste artista.» (Ângelo de Sousa. Escultura, 2006)

Apesar de ser a faceta menos conhecida do trabalho de Ângelo de Sousa, a escultura assumiu um papel decisivo na sua prática artística, constituindo um polo de autonomia e originalidade, que todavia se desenvolve em articulação com o desenho e a pintura. Molder sublinha esta relação: «Desta totalidade enunciada resulta uma espécie de evidência de que o desenho é tudo e está em tudo e que, ao mesmo tempo, a escultura é a forma da sua continuação, como espaço para lá das duas dimensões.» E acrescenta: «Como em todas as áreas da obra de Ângelo de Sousa a experimentação esteve sempre antes e as obras deixam-no adivinhar. Pegar em materiais e procurar apreender as suas qualidades, as suas propriedades e até as suas limitações, são operações que toda a sua obra explicita.» (Ibid.)

A experimentação fez parte da vida e da arte de Ângelo de Sousa, e a escultura – que até então permanecia em grande parte desconhecida do público – justificou o intuito da exposição no CAMJAP. Segundo Nuno Faria: «Há, no trabalho de Ângelo, uma predominância do experimentalismo, um trabalho em constante processo. Revelando justamente este aspecto, trouxe-se para o espaço da exposição todo um conjunto de experiências, de objectos encontrados, de maquetas ou modelos, coisas que talvez não sejam ainda escultura, ou que sejam uma promessa de escultura, coisas sem nome.» (Ângelo de Sousa. Escultura, 2006, p. 31)

Conforme é apontado por vários autores, o trabalho em escultura de Ângelo de Sousa resulta de um entendimento expandido desta disciplina: «Se os primeiros ensaios se revelam, no seu experimentalismo, ainda devedores de uma linhagem escultórica no limiar da modernidade –Rodin ou Brancusi, por exemplo –, a partir de 1964, ano em que o artista se dedica de forma sistemática ao trabalho em escultura, a linguagem dos projectos e das peças que surgem é claramente explanada e dificilmente pode ser vinculada quer a determinada influência quer ao “ar do tempo”.» («Diferença e Repetição», Newsletter. Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 70, fev. 2006, p. 18)

Nesse sentido, para compreender a escultura de Ângelo importa considerar a prática num campo expandido, «quer geograficamente, quer temporalmente, quer mentalmente». Mais que apresentar as esculturas do artista, o curador pretendeu «entrever» o seu processo: «Tornar visível o avesso da obra, aquilo que origina, a causa ou o mote, é contudo vital quando tentamos dar a ver a produção escultórica de Ângelo de Sousa.» (Ângelo de Sousa. Escultura, 2006, p. 31)

A exposição integrou um conjunto de peças realizadas ou projetadas entre o final dos anos 50 e a década de 80, cobrindo o período mais prolífico da sua produção escultórica (os anos 60 e 70), tendo sido a primeira vez que se reuniu um tão grande número de esculturas do artista. A mostra também incluiu projetos construídos expressamente para o efeito. Integrou ainda um conjunto de objetos e de dispositivos cuja articulação com as peças permitiu alargar o campo de perceção do público, vincando o lado experimental e projetual da mostra.

O projeto expositivo estruturou-se em torno de três vetores: um primeiro dedicado a trabalhos realizados sobretudo nas décadas de 60 e 70, que incluiu esculturas, maquetes e projetos desenhados e idealizados; um segundo composto por desenhos de projetos e maquetes que atravessam diferentes épocas de produção e que foram concretizados para a exposição; e um terceiro compreendendo intervenções de diversa ordem, como obras site-specific e trabalhos em vídeo da autoria do artista plástico Nuno Ribeiro.

Na sequência da exposição foram incorporadas quatro obras do artista na coleção do CAMJAP. A FCG adquiriu três esculturas de dimensão média, realizadas em 1964/65; e Ângelo de Sousa ofereceu ao CAMJAP uma escultura de grandes dimensões, idealizada em 1967 e concretizada em 2006.

A exposição no CAMJAP articulou-se com a exposição «Ângelo de Sousa. Ainda mais Escultura», esta igualmente produzida pela FCG e comissariada por Nuno Faria, mas montada na Cordoaria Nacional em Lisboa e inaugurada pouco depois da exposição da FCG, a 18 de abril do mesmo ano. Para esta segunda mostra destinaram-se 40 esculturas de grande formato, em aço inox e PVC, que ocuparam os dois andares do Torreão Nascente. Como noticiou Isabel Salema no jornal Público: «São esculturas que esperaram 40 anos para serem executadas […]. Há 40 anos, o artista deu-lhes corpo em pequenas maquetas ou em projectos desenhados. Algumas destas maquetas estão em exposição no Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, na antológica Ângelo de Sousa – Escultura […]. As duas exposições são, aliás, complemento uma da outra.» (Salema, Público, 18 abr. 2006)

Relativamente à concretização de alguns dos projetos antes em maqueta, com a construção mudou a escala e os materiais das peças. Nuno Faria comentará: «A escultura do Ângelo não se cumpre só no espaço, cumpre-se também no projecto, seja em maqueta seja em desenho.» Contudo, na maquete as obras prometiam uma escala diferente, e realizá-las foi de facto importante: «Era uma “aspiração” de Ângelo que se cumpriu.» (Ângelo de Sousa. Escultura, 2006)

Como atividades complementares, foram organizadas várias visitas guiadas à exposição, conduzidas pelo comissário Nuno Faria e por Sandra Vieira Jürgens; e a oficina para crianças «Era uma vez… Um risco amarelo que queria ser um quadrado azul», orientada por Carla Rebelo e Rita Cortez Pinto do Serviço Educativo do CAMJAP.

O lançamento do catálogo da exposição ocorreu já no decorrer do período da exposição, por forma a que a montagem e as peças expressamente produzidas para nela serem incluídas pudessem ser documentadas. Assim, por ocasião do lançamento do livro, foi organizada, a 30 de março, uma apresentação pública no Hall do CAMJAP, que contou com a presença do artista bem como de alguns dos autores dos textos do catálogo, que aproveitaram para conversar sobre a obra de Ângelo de Sousa.

O catálogo da exposição reflete o vasto conjunto de questões que informam a escultura de Ângelo de Sousa. A monografia inclui textos de Jorge Molder, Nuno Faria, José Gil, Rui Sanches, Francisco Tropa, uma conversa entre Ulrich Loock e o artista, além da reprodução de esculturas, projetos, desenhos e esboços que figuraram na mostra, bem como aspetos de exposições em que Ângelo de Sousa participou.

No decorrer da exposição, foi realizada uma entrevista a Ângelo de Sousa, conduzida por Raquel Santos, no âmbito do programa televisivo «Entre Nós», produzido pela RTP2. A entrevista foi gravada no espaço da exposição e foca a importância da escultura na obra do artista, o seu percurso artístico e processos criativos e a sua obra em geral. São filmados planos de várias peças e esculturas expostas no CAMJAP e na Cordoaria Nacional.

A repercussão crítica da exposição foi bastante alargada, sendo possível reunir diversos artigos relativos ao evento. A título exemplificativo, destacamos as impressões de alguns autores.

Nas palavras de Celso Martins: «Tratando-se de uma antológica, esta não é, no entanto, uma antológica normal. A sua concepção e mesmo a montagem da exposição […] cria grandes espaços de profundidade e transparências e um ambiente quase oficial, que caem bem a uma obra que tem um evidente perfil experimental e uma existência atribulada do ponto de vista da sua concretização.» (Martins, Expresso, 11 mar. 2006, p. 52)

Segundo Paulo Lobo, a exposição constituía-se segundo uma montagem que «enfatiza a abordagem didáctica e deixa que as próprias peças definam o percurso» (Lobo, Diário de Notícias, 16 fev. 2006).

Tomás Rosa destacou o interesse da exposição: «Dezenas de peças escultóricas revelam ao visitante do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian a produção de Ângelo de Sousa nessa disciplina. Uma mostra muito interessante, conjugando diversos dispositivos de amostragem, fundamental para perceber também os fundamentos e preocupações na base da busca artística do autor. A experimentação e o jogo das formas, eis uma súmula daquilo que se pode visitar.» (Rosa, Magazine Artes, abr. 2006)

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Escultura

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Escultura, 1966 / Inv. 97E526

Sem Título

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Sem Título, 1967-2006 / Inv. 06E1371

Sem Título

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Sem Título, 1965 / Inv. 07E1415

Sem Título

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Sem Título, 1964 / Inv. 07E1414

Sem Título

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Sem Título, 1964 / Inv. 07E1416

Sem Título

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Sem Título, 1967-2006 / Inv. 06E1371

Sem Título

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Sem Título, 1965 / Inv. 07E1415

Sem Título

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Sem Título, 1964 / Inv. 07E1414

Sem Título

Ângelo de Sousa (1938-2011)

Sem Título, 1964 / Inv. 07E1416


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Ângelo de Sousa. Escultura]

19 fev 2006 – 11 mar 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Galeria Piso 01
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Ângelo de Sousa. Escultura]

26 mar 2006 – 30 abr 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Galeria Piso 01
Lisboa, Portugal
Lançamento editorial

Ângelo de Sousa. Escultura [catálogo]

30 mar 2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Ângelo de Sousa (ao centro)
Nuno Faria (à esq.), Ângelo de Sousa (ao centro) e Jorge Molder (à dir.)
Nuno Faria (à esq.), Teresa Gouveira (ao centro) e Ângelo de Sousa (à dir.)
Teresa Gouveira (à esq.), Ângelo de Sousa, Jorge Molder (ao centro) e Nuno Faria (à dir.)
Nuno Faria (à esq.), Ângelo de Sousa (ao centro) e Teresa Gouveia (à dir.)
José de Guimarães (ao centro)
Ângelo de Sousa (à esq.)
José Pacheco Pereira (ao centro)
António Repolho Correia
Rita Fabiana (ao centro)

Multimédia


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00544

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, informações e textos de catálogo, formulários de empréstimos de obras, convite e recortes de imprensa. 2006 – 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 111161

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 116834

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 2006


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.