Exposição individual de Artur Bual (1926-1999), apresentada no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris. Organizada pela Câmara Municipal da Amadora, esta mostra surge como uma homenagem àquele que é considerado um dos pioneiros da pintura gestual em Portugal.

Três anos antes, aquando da morte do artista, a Câmara Municipal da Amadora organizara a mostra «Bual: Sopros de Ser», na Galeria Municipal Artur Bual e na Galeria dos Recreios da Amadora, Espaço Cultura. Esta centrava-se nos seus últimos trabalhos, reunindo um conjunto significativo de pinturas, datadas de 1998, demonstrativa da oscilação entre abstracionismo lírico e neoexpressionismo na sua última fase de produção.

A mostra acolhida pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian foca-se no gestualismo lírico, linguagem pictórica que levara Bual àquela cidade, mais de quatro décadas antes, em 1959, para estudar, contando para isso com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. A relevância desta bolsa foi, desde logo, referida pelo artista no seu primeiro relatório: «[…] uma das maiores vantagens […] da minha estada em Paris foi, sem dúvida, a de me habituar a ver os problemas da arte com um sentido de profissionalização que, em Portugal, infelizmente, não existe.» (50 Anos de Arte Portuguesa, 2007, p. 42)

A exposição era composta por pinturas de grande e médio formato em que predomina a pincelada livre, rastos de gestos curtos e frenéticos, mas também largos e rígidos, que se intersetam. Os trabalhos foram expostos tendo em consideração afinidades formais e cromáticas. As obras selecionadas revelavam jogos de cores contrastantes, mas também experiências monocromáticas. Diferentes ritmos, movimentos e intensidades de cor, ora luminosas, ora sombrias, dão forma a variações de uma mesma linguagem.

Ao analisar a pintura de Bual, Raquel Henriques da Silva refere: «O seu gestualismo lírico, aparentemente espontâneo, está então imbuído de uma reflexão indagante sobre as propriedades expressivas das cores, decompostas numa miríade de movimentos e velocidades lumínicas.» (Ibid.)

Esta exposição foi acompanhada por um folheto, no qual foram reunidos alguns testemunhos de colegas de profissão e amigos do artista, entre os quais o crítico de arte Egídio Álvaro, para quem Bual era «um personagem enigmático. Para lá da sua aparente bonomia, da simplicidade das suas maneiras, de uma certa ingenuidade, transparecia uma angústia latente, uma índole de visionário, as marcas de um pesquisador eternamente insatisfeito», e acrescenta: «De Bual, que foi, em Portugal, pioneiro de vários momentos decisivos da arte, fica-nos a memória de um artista para quem os fogos de rampa importavam pouco.» (Artur Bual. Mémoires Visibles, 2002, s.p.)

Mariana Roquette Teixeira, 2019