Arpad Szenes. Centenário de Nascimento

Exposição individual, antológica e retrospetiva da vida e obra de Arpad Szenes (1897-1985). Organizada por ocasião do centenário do seu nascimento, a iniciativa resultou de uma parceria entre a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva e a Fundação Calouste Gulbenkian. A primeira apresentou desenhos, enquanto a segunda expôs exclusivamente pintura.
Retrospective exhibition on the life and work of Árpád Szénes (1897-1985). Organised to mark the centenary of the artist’s birth, the exhibition resulted from a partnership between the Árpád Szénes – Vieira da Silva Foundation and the Calouste Gulbenkian Foundation, with the former displaying drawings while the latter showcased paintings.

Em 1997, a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (FASVS) e a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) uniram esforços para fazer da celebração dos cem anos de Arpad Szenes (1897-1985), uma oportunidade privilegiada para voltar a lançar luz sobre um percurso artístico que, por vocação, se manteve longe de ribaltas. Pois, como não deixaria de ser sublinhado no contexto destas comemorações, a vida e obra de Arpad pautam-se, de facto, por uma certa discrição, calma e ponderada.

José Sommer Ribeiro, antigo diretor do Serviço de Exposições e Museografia da FCG e do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), estava agora à frente da FASVS da qual era o primeiro diretor. Em conjunto com Jorge Molder e Rui Sanches, então respetivamente diretor e diretor-adjunto do CAMJAP, programou uma antológica da obra de Arpad que passou por duas exposições simultâneas em Lisboa: desenhos, no espaço da FASVS, e pintura na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0).

Comissariada por Sommer Ribeiro e Guy Weelen, a iniciativa terá inaugurado a 2 de outubro de 1997, ficando patente até 28 de dezembro desse ano. O catálogo de exposição, comum para os dois locais da mostra, lista um total de 171 obras, divididas entre 63 pinturas e 108 desenhos (mais raramente expostos). À apresentação institucional de Sommer Ribeiro e Jorge Molder, somam-se contribuições de Weelen, José-Augusto França e Alain Tapié, que, no seu conjunto, perfazem uma contextualização atenta e bastante personalizada da obra do autor (Arpad Szenes. Centenário de Nascimento, 1997).

O acervo exposto percorreu toda a cronologia dos cerca de setenta anos de atividade do autor, indo de desenhos do início da década de 1910 às «abstrações paisagísticas», que, dos anos 60 à entrada para a década de 1980, marcam a última de várias fases em que se sentem reciprocidades artísticas com a obra de Vieira da Silva. Não que o casal-artista não tenha desenvolvido uma vincada identidade autoral – aspeto que estas comemorações permitiram salientar. Há, no entanto, evidentes partilhas, ora mais subtis ora mais declaradas, nascidas de mais de cinquenta anos de vida comum.

Arpad Szenes e Vieira da Silva são dois autores fundamentais para compreender as maturações das primeiras vanguardas que marcam a chamada Escola de Paris. Esta retrospetiva de 1997 dava a ver como a novidade surrealista que ambos encontram na chegada a Paris, começa a transpor-se, em meados dos anos 30, para figurações que não prescindem de digerir a experiência do abstracionismo do período entre guerras.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Estado Novo recusa dar nacionalidade portuguesa a Arpad, episódio que leva o casal a exilar-se no Brasil. É talvez neste período que Arpad mais interrompe o estimulante diálogo pictórico com Vieira, para que a imagem da própria artista entre, ainda mais frequentemente, nos imensos retratos que o pintor sempre lhe dedicou até ao final da vida. Muitos dos desenhos contemplados nesta retrospetiva de 1997 evidenciam que, neste período, o artista assume quase uma postura de um cronista de ambientes pessoais e íntimos, quase sempre com a sua tão apreciada depuração gráfica e uma narratividade que pede decifrações. Também muito contemplada nesta exposição foi a prática da autorrepresentação, talvez menos conhecida, e igualmente mais frequente no desenho. Arpad desenvolve essa faceta da sua obra até ao final da vida.

Com o regresso a Paris em 1947, novos desafios se levantaram às linguagens e poéticas de Arpad e Vieira. Desse final da década de 1940 em diante, a obra de ambos assume um compromisso muito específico com os desígnios da abstração, situando-se sempre, cada um a seu modo, naquela charneira em que o mundo fenoménico não precisa de figurar explicitamente na pintura para que nela e a partir dela se possa sentir.

As pinturas de Arpad expostas na Gulbenkian em 1997 denunciam como, desde os anos 50 até à entrada para a década de 1980, o autor colocou céu e o mar, vento e montes num caminho de transformação em pura cor e forma. O pintor deixa-nos essa intensa pulsação pictórica do real, matéria essa que, justamente porque não é representada, ecoa com especial premência nas atmosferas de tons esbatidos, manchas ténues e contrastes lumínicos. 

Muitas foram as entidades que cederam obras para esta iniciativa, desde colecionadores privados a instituições nacionais e estrangeiras, entre as quais vários museus franceses. A FCG juntou-se-lhes, figurando na mostra quatro peças (Invs. PE86, PE84, PE82, PE87), que estão entre as 16 que hoje constituem o núcleo dedicado a Arpad Szenes na coleção do Centro de Arte Moderna. Trata-se de um acervo que tem vindo a ser constituído desde a década de 1970 e que reflete o interesse continuado que a Fundação tem demonstrado pela obra do autor, também plasmado na programação expositiva. Além desta retrospetiva do centenário do nascimento do autor, destaquem-se as mostras «Arpad Szenes» (Lisboa, FCG, 1972), «Retratos de Vieira por Arpad» (Lisboa, CAM-FCG, 1985) e «Arpad Szenes. Lumière. Portugal» (Paris, Centre Culturel Portugais da FCG, 1986, e Lisboa, CAM-FCG, 1987).

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Eclipse

Arpad Szenes (1897-1985)

Eclipse, Inv. PE82

Marie Hélène

Arpad Szenes (1897-1985)

Marie Hélène, (1948) / Inv. PE87

Peinture

Arpad Szenes (1897-1985)

Peinture, Inv. PE84

Peinture

Arpad Szenes (1897-1985)

Peinture, Inv. PE86


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00475

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém epistolografia com a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, parceira institucional que coproduziu o evento; informações referentes à produção do catálogo, montagem da exposição e organização do jantar oferecido no dia da inauguração. 1997 – 1998

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 110388

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1997


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