Exposição decisiva no percurso de Francisco Tropa (1968), consagrando-o, por esta via, a título individual. A mostra, realizada no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e comissariada por Jorge Molder, incentivava o público a relacionar-se com o espaço e com as várias referências visuais que o compunham.

Como refere Nuno Faria no catálogo da exposição, a instalação representava «um prédio com quatro andares», quatro espaços de circulação distintos de uma suposta habitação: «R/c: Je connais tous les fromages»; «1.º: Pelicano»; «2.º: FC»; «3.º: Caixa de chá» (Faria, L’Orage, 2003).

As estruturas modulares e as simetrias do edifício-instalação eram desestabilizadas pelas particularidades e indicações constituintes do espaço-cenário. Dessa forma, o artista operava sobre a relação do espectador com o lugar e sobre a diversidade de experiências desencadeadas nessa movimentação, tantas quantos os visitantes e a teia de ligações estabelecidas entre os vários elementos. Tratava-se, pois, de «quatro espaços inesperados, por vezes inacessíveis e certamente paradoxais, visualmente muito fortes e sugestivos de uma narrativa permanente em estado de evasão» (Relatório Anual de Contas, 2003-2004).

A secção «Pelicano» integrou uma performance desenhada pelo artista, e que o catálogo cartografa, onde atuavam um maquinista (Gonçalo Barreiros ou Daniel Salvador Barroca) e uma solicitadora (Ana Vizinho ou Alexandra Mota Pinto), situação com que o espectador se confrontava enquanto deambulava pelo espaço expositivo.

Desta enorme instalação apresentada em «L’Orage» foi selecionada pelo curador, Francisco Bonami, um fragmento da secção «R/c», intitulado Une table qui aiguisera votre appetit – Le poids poli (2003), a fim de ser apresentado na 50.ª Bienal de Veneza (2003), na secção «Clandestines». Esta participação teve também o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em parceria com o Instituto de Arte Contemporânea/Ministério da Cultura de Portugal e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

O catálogo trilingue da exposição, publicado pela FCG, contou com o design gráfico de Francisco Tropa e de Paulo Emiliano, numa composição apelativa composta pelas plantas das várias secções da instalação e com reproduções fotográficas da obra (José Manuel Costa Alves).

Como atividade integrada na programação da exposição foi ainda apresentado um documentário sobre Francisco Tropa (Bitola, 45’, 2003), encomendado pela FCG ao Laboratório de Criação Cinematográfica (LabCC), da Universidade Nova de Lisboa, da autoria de Nuno Ventura Barbosa. Este filme constitui-se como um suporte documental da exposição, uma vez que apresenta imagens da montagem da mostra, da instalação, da performance no espaço «Pelicano» e das diversas atividades de extensão cultural promovidas pelo Serviço Educativo do CAMJAP.

O Serviço de Belas-Artes da FCG apoiou a ação do LabCC através da concessão de subsídios destinados a permitir a realização de vídeos sobre artistas portugueses reconhecidos. Este projeto, de orçamento reduzido, foi desenvolvido por jovens cineastas sob a orientação do professor João Mário Grilo, e visou uma articulação com o calendário de programação do CAMJAP e com os artistas aí apresentados.

No final da exposição, Francisco Tropa doou ao CAMJAP as maquetes da instalação ali apresentada.

Filipa Coimbra, 2016