Dessins. Pedro Proença

Exposição do artista português Pedro Proença (1962). A mostra apresentou em duas fases – uma em julho, a outra em setembro de 1998 – 40 desenhos a tinta-da-china e o texto As Falsas Apoteoses. António Coimbra Martins concedeu ao artista toda a liberdade na escolha dos trabalhados a apresentar.
Exhibition of work by Portuguese artist Pedro Proença (1962). The show was held in two parts, the first in July and the second in September of 1998, and featured 40 drawings in India ink as well as the artist’s text “The False Apotheoses”. António Coimbra Martins gave the artist free reign to select the works to be shown.

Em 1998, foi realizada a exposição dedicada ao artista português Pedro Proença (1962), por iniciativa do Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG), delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris.

O então diretor do CCCG, António Coimbra Martins, dirigiu o convite a Pedro Proença para a concretização da exposição, que, nas palavras do diretor, teria «tanto interesse em realizar». No mesmo convite, Coimbra Martins concedia ao artista livre escolha nos conteúdos a apresentar (Carta de António Coimbra Martins para Pedro Proença, 23 mar. 1998, Arquivos Gulbenkian, PRS 05334).

Pedro Proença estudou na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Artista plástico, escritor, músico e tipógrafo, nas artes plásticas tem vindo a trabalhar em pintura, desenho, ilustração e instalação. Do seu extenso e reconhecido percurso, destaca-se a exposição que realizou na Fundação Calouste Gulbenkian em 1994, «Pedro Proença. Antologia, 1989-1993» – produzida na sequência de lhe ter sido atribuído o Prémio União Latina, em 1992 –, entre muitas outras mostras individuais e coletivas, promovidas tanto em Portugal como no estrangeiro.

Por decisão de Coimbra Martins, a exposição em Paris foi apresentada em duas fases no mesmo ano, uma primeira no mês de julho e uma outra em setembro. Embora mantendo a mesma conceção e o mesmo número de obras, ambas as apresentações foram «objecto de anúncio especial», com programa individualizado de promoção e atividades associadas ao evento, como refere o diretor na correspondência trocada com o artista durante o processo de produção (Ibid.).

Para a exposição, Proença selecionou um conjunto de 40 desenhos em tinta-da-china (a cores e a preto), realizados nas décadas de 1980 e 1990.

Como menciona o pequeno texto do convite para a inauguração da mostra, Pedro Proença concebia os seus desenhos numa linguagem repleta de humor, criatividade e coerência: «Ses dessins paraîtront excentriques à d'aucuns. Très suggestifs, ils relèvent en réalité du talent le plus imaginatif. L'artiste arrive à surprendre, ce qui, depuis longtemps, n'est plus facile. Il a l'art de surprendre même avec le coutumier. Il a le trait, il a l'humour. Associant le disparate, il réussit l'unité et l'harmonie de la figure.» (Dessins Pedro Proença. Vernissage [convite], 1998, Arquivos Gulbenkian, PRS 05334)

Além dos desenhos, Pedro Proença apresentou também o texto «As Falsas Apoteoses», que esteve disponível para leitura nas paredes da galeria. Segundo o artista, era um «pequeno panfleto contento as inopinadas opiniões […] sobre os mais estrambólicos assuntos escritos por ocasião de uma exposição […] na sobejamente conhecida cidade de Paris» (Proença, «As Falsas Apoteoses», 1998). A intenção do artista consistia em «escrever um texto aparentemente paródico baseado no "processo criativo" do Marcel Duchamp», baseando-se no texto de referência «The Creative Act», publicado pela primeira vez em 1957 e que problematiza o papel do espectador enquanto coautor da obra de arte (Ibid., p. 6).

Extrapolando a reflexão sobre esta problemática estética, Pedro Proença aborda, igualmente, as intenções e influências invariavelmente impressas na obra e a relação subjetiva que a mesma desenvolve com cada um dos seus espectadores. Neste sentido, afirma: «Por mais que tentemos separar as supostas boas intenções do artista da sua obra, estas acabam por influenciar a forma como o público e a posteridade o julgam, e seria ingénuo não constatar que, uma vez expressas, tais intenções nos obrigam a olhar para as obras com outros olhos e vice-versa. Se o fazemos com a maior naturalidade, como impedir que outros o façam? Mas também é verdade que boas intenções não salvam mediocridades, e que as melhores obras de arte se safam perfeitamente sem nenhumas boas intenções.» (Ibid., p. 12)

E acrescenta que, no limite, «é menos importante que uma obra de arte seja boa ou má do que seja estimulante […] a diferença entre a intenção e a realização pode não ser detectada quer pelo artista quer pelo público, mas há também a hipótese de que ambos se apercebam do que sucedeu e que corrijam a intenção substituindo-a por um dispositivo conceptual (ou não) mais apropriado, que também pode não ser o mais adequado» (Ibid., pp. 12-14).

A diversidade de emoções à qual a obra é suscetível reflete imediatamente a dimensão da sua infinita fecundidade. Em associação a esta ideia, Proença propõe ainda o artista-criador, como um espectador «que é apenas mais privilegiado que a maioria dos espectadores, mas não forçosamente o espectador mais privilegiado» (Ibid., p. 14).

Por fim, «As Falsas Apoteoses» desafiam o leitor a refletir perante a seguinte pergunta: «Duchamp reforça o papel do espectador enquanto criador, mas o criador, ou re-criador que não inscreve a sua criação em algo que se lhe torna exterior, será que é um criador significativo?» (Ibid.)

A delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian organizou ainda visitas guiadas à exposição. Paralelamente, foi inaugurada uma mostra do fundo bibliográfico da Biblioteca, subordinado ao tema «Le dessin portugais au XXème siècle».

À semelhança do que sucedeu com outras iniciativas da delegação em França, em lugar de um catálogo foi publicado um folheto de divulgação. Este inclui o texto «As Falsas Apoteoses» e ainda algumas reproduções dos desenhos apresentados.

Os convites impressos para cada uma das fases da mostra continham um texto de introdução ao trabalho do artista (edição de julho) e excertos de «As Falsas Apoteoses» (na edição de setembro).

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum da inauguração da exposição

Documentação


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05334

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convites, documentação referente ao transporte, molduras e seguro das obras. 1998 – 1998

Arquivos Gulbenkian (Presidência), Lisboa / PRS 04915

Álbum com coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CCP, Paris) 1998 – 1998


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