Exposição individual e temporária de Fala Mariam (1962), ex-bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, de 1986 a 1987 e de 1987 a 1988. A inauguração realizou-se a 19 de fevereiro de 1992 e contou com a presença do presidente da República Mário Soares. A exposição esteve patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01) até 22 de março de 1992.

Foram expostas 40 pinturas realizadas a tinta-da-china sobre papel, de 1986 a 1988, e acrílico sobre tela, de 1989-1991. A obra de Fala Mariam é caracterizada por uma dicotomia de encobrimento e revelação, conseguida através do jogo de transparências que as aguadas sobre papel possibilitam, depois substituídas pelo acrílico, menos revelador das memórias, amores e abjeções da artista.

O trabalho exposto permitiu observar o desenvolvimento da obra de Fala Mariam, marcado pela passagem do uso do papel ao uso da tela, numa contínua intimidade com elementos orientalizantes da arte indiana e com o colorido característico de Miró.

Sobre esta passagem de um suporte para outro, Fernando de Azevedo escreve que a sua importância é relativa ou nula, já que para Fala Mariam o que é verdadeiramente importante são os referentes externos para os quais a imagem remete e o tratamento abstrato que lhes é dado.

Sobre a obra de Fala Mariam, diria José-Augusto França, historiador de arte: «O resto é qualidade estética, confiada a quem olhar e saiba viajar nestas "paisagens de alma", em aguadas de tinta-da-china, sedosas no papel – entre tonalidades de ar-água-fogo-e-terra, e figuras de geometria ou fantasmas, menos gráficas do que podem parecer, ou vazias, e antes orgânicas sobre os fundos. Figuras pairando, Pintura do Pairar então se diria, como se a todo o momento se esperasse vê-la assentar – que não assenta, ou tem de assentar.» (Fala Mariam, 1992)

Carolina Gouveia Matias, 2018