• 1989
  • Gesso, Madeira e Fórmica
  • Construção
  • Inv. 91EE43

Rachel Whiteread

Yellow Leaf

A escultura de Rachel Whiteread materializa o espaço por baixo de uma mesa de cozinha, a partir de cinco elementos em gesso que, juntos, formam um bloco de aparência compacta, impenetrável. O título relaciona-se com a placa de fórmica embutida sobre o elemento central, aglutinador dos outros, que a ele se acolhem, selando o molde do espaço vazio. Yellow Leaf (Folha Amarela) era o nome da folha de fórmica que servia para aumentar a mesa da cozinha da avó da artista, quando família e amigos se reuniam. A escultura evoca as suas memórias infantis sobre (e sob) aquela mesa, ao mesmo tempo que festeja a dimensão comunitária de uma refeição partilhada. A escultura surge da solidificação de um espaço para onde habitualmente não se olha, sob uma mesa usada quotidianamente, um não-lugar que apenas reencontramos na memória de gestos, brincadeiras, acontecimentos. Apesar do seu sentido partilhável, formalmente a escultura tem uma aparência hermética, de pequeno bunker ou mastaba.

 

A ideia de morte perpassa toda a obra de Whiteread, assumida pela artista como recorrente desde a sua infância até à idade adulta. Nas suas obras, não apenas o ar, por definição etéreo e ascendente, se materializa e pesa, como o familiar e o quotidiano assumem a estranheza, «a beleza assombrada dos fósseis ou dos negativos fotográficos».* Moldando o espaço entre, sobre ou sob objectos familiares relacionáveis com o corpo humano – cadeiras, armários, colchões, banheiras, prateleiras, sacos de água-quente –, as esculturas de Rachel Whiteread reinventaram este processo escultórico tradicional, passando-o para primeiro plano, dando-lhe o protagonismo das obras acabadas.

 

Rachel Whiteread tornou-se conhecida pela sua utilização de materiais invulgares em escultura, como borrachas, resinas, massa dentífrica ou cimento, na criação dos moldes dos negativos de objectos abandonados ou que recupera em depósitos. Interessa-lhe a materialização, o decalque da memória desses objectos e espaços da classe média britânica, entre os quais cresceu e onde, de algum modo, ficou impressa a existência de pessoas entretanto desaparecidas. Mas embora o trabalho de Rachel Whiteread seja relacionável com a depuração das esculturas minimalistas de Judd ou Andre, com as quais tem em comum a base arquitectónica e o controlo espacial, a sua obra está marcada pela presença do humano, atravessada de emoções e sentimentos ausentes das peças abstractas e frias dos artistas norte-americanos. Rachel gosta da ideia de praticar um “minimalismo com coração”, ainda que na maioria das memórias evocadas este tenha deixado de bater.

 

 

Ana Vasconcelos

Maio de 2010

 

 

* Rachel Whiteread, Edinburgh / London, Scottish National Gallery of Modern Art / Serpentine Gallery, 2001.

TipoValorUnidadesParte
Altura73,5cm
Largura150cm
Profundidade94cm
TipoAquisição
Data11-01-1991
Linhas de Sombra
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Centro de Arte Moderna, 1999
ISBN:972-635-115-4
Catálogo de exposição
A Ilha do Tesouro / Treasure Island
CAMJAP/FCG
Curadoria: CAMJAP/FCG
7 de Fevereiro de 1997 a 4 de Maio de 1997
Todo o espaço expositivo do CAM - pisos 0, 1 e 01, e Galeria de Exposições Temporárias.
Comissários da exposição: Jorge Molder e Rui Sanches.
Rachel Whiteread
Museu Madre
Curadoria: Mário Codognato
3 de Fevereiro de 2007 a 1 de Maio de 2007
Museu Madre, Nápoles
25 de Maio de 2007 a 26 de Agosto de 2007
CAC Málaga
Exposição retrospectiva da Rachel Whiteread. A exposição itinerou para Málaga.
The Gulbenkian Foundation and British Art
Tate Britain
Curadoria: Tate Britain
1 e 10 de Março de 2006 a Fevereiro de 2007
Londres, Tate Britain
A exposição fez parte das comemorações dos 50 anos da Fundação Calouste Gulbenkian que começaram oficialmente a 18 de Julho de 2006.
Linhas de Sombra
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian
29 de Janeiro de 1999 a 18 de Abril de 1999
Lisboa
Exposição comissariada por João Miguel Fernandes e Maria Helena de Freitas e programada por Jorge Molder e Rui Sanches.
Atualização em 23 janeiro 2015

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