Lilac Relief [Relevo lilás] e White Relief [Relevo branco], obras de 1963, são construções em madeira pintada, material tradicional trabalhado aqui com processos inovadores. Apresentam-se fixadas na parede, sugerindo o efeito da colagem e dando origem a imagens inesperadas. É o próprio artista quem nega o carácter orgânico das formas; trata-se, tendencialmente, de uma abstração semi-geométrica e monocromática que conjuga formas distintas e irregulares. Todavia, e apesar de um certo discurso matemático subjacente, esta abstração é relativa. Como afirmou Garth Evans, estas construções são «contentores de memórias identificáveis particulares». No mesmo sentido, os objetos contêm uma qualidade emotiva, resultado da procura de tornar visível «o que se sente e não pode ser mostrado de outra forma». A forma define o espaço relativo da obra e, ao projetar-se, o espaço expositivo envolvente. A simplificação das formas, bem como a sua relação com a cor, remete para o abstracionismo norte-americano, que privilegia a reflexão individual consubstanciada no ato criativo e na obra plástica. Não há aqui um tema específico: é o próprio objeto escultórico a construir o seu significante; a forma gera a escultura, que gera a forma, que gera o conteúdo, que gera a escultura. Assim, representação e simbolismo veem abolidas as fronteiras que os separam. Cada obra parece conter a sua lógica própria e ditar os seus próprios termos.

MG

Maio de 2010