Variação sobre o tema da «natureza morta», esta obra apresenta-nos uma composição com vegetais sobre uma mesa de madeira natural. A tomada de vista frontal, a luz branca e tamisada oriunda da direita e as sombras projetadas dos alimentos sobre o fundo branco da mesa e da parede concorrem para sublinhar a matéria própria – forma, dimensão, cor, textura –, a plasticidade inerente a cada um dos legumes: a abóbora partida com o seu núcleo de sementes e a sua polpa de laranja intenso, a forma carnuda e densamente inervada das folhas de couve, a pequenez polida e lustrosa de um tomate vermelho à direita. É uma «natureza morta» severa e frugal que Maria Beatriz nos propõe, encenada num espaço indefinido e esvaziado de referências externas concretas, para além da mesa – uma «natureza morta» concebida num sentido diverso da exuberância formal que durante séculos contribuiu para a grande voga daquele género pictórico na Europa, com a sua bateria de troféus, objetos comuns, alimentos e proventos da caça, tecidos, vidros e metais, instrumentos musicais ou de medições científicas, enfim, todo um mundo de coisas e substâncias aqui reduzidas à expressão mais simples e delicada de um alinhamento de legumes.

AFC
Março de 2011