Esta «natureza morta», da série Vita Brevis, retoma a composição com vegetais – abóbora, couve, tomate – que descobrimos noutra obra da mesma série (na coleção do CAM, com o inv. 02FP367), agora com uma conceção que nos deixa ver o espaço interior onde os objetos – os legumes e a mesa – estão situados. A parede branca em fundo, o chão revestido de tela plástica translúcida atravessado por um fio elétrico e a janela alta na lateral direita concorrem para a definição de um cenário interior austero e despojado, que estabelece um contraponto com a vista exterior de um edifício com as suas janelas de sacada e o seu revestimento de tijolo. É da claridade difusa oriunda da janela que a imagem tira parte da sua força expressiva, desenhando assim zonas de sombra e penumbra que suavizam a luz interior com uma gradação sensível dos tons negros. A tomada de vista frontal da mesa, com os seus legumes alinhados, sugere ainda uma certa distância do olhar, uma distância «neutra» que não deixa de sugerir um parentesco remoto – decerto também pela luminosidade difusa e serena e pela presença da janela – com a obra do mestre holandês do século XVII, Jan Vermeer.

AFC

Março de 2011