Desenvolvida entre 1999 e 2002, a série Vita Brevis de Maria Beatriz inclui pintura, instalação com objetos e fotografia. A sequência de que a obra atual faz parte integra oito fotografias na coleção do CAM, ligadas pelo tema da «Natureza morta», ou da «vida imóvel» (still life) como se designa – talvez com maior propriedade – em língua inglesa. Vida parada ou suspensa é o que nos propõe Maria Beatriz, em composições muito simples e austeras com flores e vegetais, tomando como referência cénica a mesa, um objeto importante na linguagem visual da artista, à semelhança do balde de plástico que nesta obra é o recipiente que acolhe um ramalhete de bolbos vermelhos. Uma luz branca e difusa projeta uma sombra discreta sobre a mesa de madeira crua, enquanto o branco da parede em fundo reverbera em contraste com o vermelho profundo do balde e das flores.

A temática da «Natureza morta» ocupa um lugar importante na tradição pictórica europeia, e sobretudo holandesa, dos séculos XVII e XVIII, com as suas imagens de abundância e trivialidades. E embora a série Vita Brevis se inscreva na continuidade daquela tradição, é interessante verificar que Maria Beatriz parece desejar inverter a comum simbologia da abundância – historicamente traduzida na exuberância cromática, no contraste acentuado de luz e sombra, no horror ao vazio –, substituindo-a por imagens de grande economia formal, de uma sobriedade desconcertante, evidente na escolha dos objetos (parcos), na luz diurna, no cenário interior despido de qualquer pretensão de riqueza.

Vita Brevis foi mostrada sucessivamente em 2002, no Centro de Arte Moderna em Lisboa, no SBK Kunstuitleen KNSM de Amesterdão, em 2003, e no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, em 2004.

 

AFC

 

Março de 2011