Muito simples e austera, esta composição mostra-nos uma abóbora partida sobre uma mesa de madeira, com gaveta, vista de frente. A luz pálida suaviza as sombras projetadas sobre a superfície plana da mesa e sobre a parede branca em fundo. A mesa, com a sua configuração artesanal, é o suporte cuja rigidez contrasta com a forma cheia, polposa e fértil do vegetal com o seu núcleo de sementes. Assim, à aparente rusticidade do móvel e da própria abóbora, a artista contrapõe a fecundidade da vida orgânica simbolizada no fruto aberto, expondo ao olhar a sua riqueza interior. Para além das eventuais referências autobiográficas, tal simbolismo não deixa de evocar o universo mágico do conto da Cinderela de Charles Perrault (1628-1703), no qual a abóbora mais bonita da horta se transforma, sob a varinha da fada, numa deslumbrante carruagem.

 

 

AFC

 

Março de 2011