Depoimento do artista:

Esta água-forte a ponta-seca em quatro partes baseia-se numa gravura cubista de Georges Braque de 1911. Braque estava insatisfeito com a sua imagem e recortou a matriz, esperando encontrar uma composição dentro da composição. Aparentemente não gostou do resultado, e não publicou a gravura. Foi talvez essa qualidade não resolvida da imagem que me interessou e me levou a retomá-la como um tema para variação…

Nesta altura também me inspirava nas Suítes Francesas de J. S. Bach, exemplos magníficos de variações musicais a partir de um tema. Ideias de muitos tipos conjugaram-se bem nestas água-fortes! O Cubismo prende-se muito com ver coisas ao mesmo tempo de múltiplos ângulos… Esta é uma noção que me é muito próxima (e também à experiência canadiana, penso).

As matrizes destas gravuras foram muito interessantes de fazer, e gastei meses a prepará-las. O cubismo combina uma estrutura clara com acrescentos confusos. Anda de trás para a frente entre o mundo real e o formalismo abstrato. Por isso sentia-me livre para divertir-me com diferentes abordagens visuais e técnicas, incluindo o aspeto «tradicional» de técnicas como a verniz mole e duro, a maneira de lápis, a ponta-seca, a água-tinta, o buril, o roulette, a água-tinta de açúcar, o crivado, e por aí fora.

A impressão das Variações sobre Braque foi bastante complexa. Tive de ir até Alemanha, à loja de gravura Kätelhön, para descobrir com os seus mestres gravadores quais as possibilidades de cor que estavam nas placas. Fizemos variações dentro de variações enquanto novas ideias surgiam a partir das existentes.

Este trabalho foi para mim uma aventura estimulante e um exemplo do que a gravura tem de excitante: o modo como as ideias nos forçam a desenvolver novas técnicas, e como por sua vez as técnicas voltam a dar lugar a outras ideias…

Carl Heywood
31 de Outubro, 2009