A paisagem e a natureza são referências centrais da obra de Andy Goldsworthy (1956). Através da realização de intervenções artísticas em estreito contacto com o mundo natural – espaço e fonte onde encontra inspiração e extrai os seus materiais –, Goldsworthy desenvolveu um projeto artístico situado na proximidade da Land Art. A sua obra apresenta as características reconhecidas do programa do movimento surgido nos anos 60: relação íntima do homem com a natureza; realização de intervenções efémeras na paisagem; atenção à experiência de temporalidade; e importância do registo fotográfico que assegura a memória da obra, contrariando a fragilidade e transitoriedade das intervenções na paisagem. Os seus materiais incluem pedras, folhas, pinhas, neve, gelo, galhos e espinhos que são dispostos na construção de linhas, círculos, espirais, formas curvas e sinuosas, de pendor orgânico em comunhão com o contexto natural. Em relação a práticas associadas à vertente inglesa do movimento, a singularidade do artista afirma-se sobretudo pela exploração de cores fortes – vermelho, amarelo, laranja –, que determinam o impacte visual e ampliam o potencial decorativo das suas intervenções paisagistas.

 

Muito conhecido pelo seu trabalho com a cor, Andy Goldsworthy também abre o campo da sua pesquisa à dimensão escultórica centrada na produção de intervenções de maior simplicidade, de dimensão objectal e artesanal, onde procura definir corpos que são evocações da arte primitiva e revelam o interesse que concede à depuração, economia e essencialidade das formas.

 

É disso exemplo a obra mostrada na imagem, Sem Título, de 1995, que dois anos depois integrou a exposição A Ilha do Tesouro / Treasure Island: Uma perspectiva sobre arte britânica contemporânea no CAM.  Esta peça surpreende pelo seu aspecto mais cru e maciço e pelo espaço vazio no interior, uma abertura com níveis que desenham uma cavidade espiralada. Significativa é também a forma como tira partido das qualidades da matéria, do seu tratamento e da textura granular. E se a pedra foi o material escolhido por Andy Goldsworthy para a realização desta peça, as características do arenito, resultado de uma sedimentação e aglutinação de areias, não deixam de colocar problemas de conservação e evidenciar a questão da durabilidade e transformação dos materiais e das obras de arte: eterna ressonância das suas intervenções na natureza.

 

 

 

Sandra Vieira Jürgens

Outubro 2014