• 1968
  • Tela
  • Óleo
  • Inv. 80P536

João Vieira

Uma Rosa É

A pintura sígnica de João Vieira desenvolve-se na sequência de experiências abstractizantes, afirmando o uso de letras como padrão através da exploração compositiva de figuras geométricas base. As experiências letristas – uso das letras como objecto de exercícios picturais –, que motivarão mais tarde o recurso a outros meios como performances, surgem na sequência dos contactos com o designado Grupo do Café Gelo, situado por baixo do seu atelier. Este grupo, que incluía, entre outros, José Escada, René Bertholo, Hélder Macedo e Herberto Hélder, proporcionará uma aproximação à poesia e a experiências surrealistas. O gestualismo pictural será aprofundado depois de 1957, já em Paris, a partir do convívio com António Saura do Grupo El Paso.

Uma Rosa É tem como mote um verso do poema “Sacred Emily” de Gertrude Stein, “A rose is a rose is a rose is a rose”, propondo a ideia tautológica de que as coisas são o que são. Esta pintura liga-se ao poema, mais do que pelo título, através da figuração das letras que, ao não perderem as suas propriedades linguísticas, permitem o acto de leitura. Isto é, apesar de se assistir a uma problematização da dimensão conceptual da letra-signo ao transformá-la em matéria pictórica, há sentido na combinação das letras, que decorre da sua obediência à convenção da língua, perturbada apenas pela orientação da escrita na composição:

 

A ROsE

Is AROS

ORAsIE

sEIsAR

 

João Vieira equaciona a carga semântica das letras gerando intencionalmente um desvio ambíguo. Ao fazê-lo, aproxima-se das preocupações da poesia concreta com que contacta na década de 60, propondo que as letras não percam o seu carácter identitário como escrita, e que se convertam simultaneamente em imagem.

O plano pictórico desta grande tela é organizado em quatro bandas horizontais onde, não obstante a simetria gerada, confirmada pela definição de uma moldura e pela disposição regular das letras. A forma algo desalinhada que têm imprime dinâmica à composição, firmada pelo uso de vários tons em cada um dos elementos. A tela apresenta, assim, uma harmonia conseguida entre o equilíbrio da disposição geral do motivo e a robustez individual de cada carácter. Há, por isso, uma dimensão compositiva assente no mote gestual: as letras como estrutura-base relacionadas numa composição maior, ordenada pela super-estrutura do quadro. O fundo branco, além de destacar e orientar a forma geral, reforça as explorações de um gesto, em que o autor faz depender a percepção do acto de pintar do tratamento das texturas da matéria e dos contrastes entre gamas variadas de cor como vermelhos, verdes ou rosa e vários tons de azul, cor dominante. O resultado plástico acentua o acto de pintar como meio expressivo, tornando a escrita matéria da pintura.

 

Maria Coutinho
Maio de 2010

TipoValorUnidadesParte
Altura200cm
Largura161cm
Tipo assinatura
Tipo data
TipoAquisição
Data26 Setembro 1980
Densidade Relativa
Lisboa, CAM/FCG, 2005
ISBN:972-635-169-x
Monografia
Densidade Relativa
Leonor Nazaré
Curadoria: Leonor Nazaré
27 de Outubro de 2005 a 22 de Janeiro de 2006
HALL de entrada e Piso 1 no CAMJAP
12-8-2006 a 26-11-2006
Centro Cultural Emmerico Nunes e Centro das Artes de Sines
A ideia de trabalhar o conceito de densidade das obras começou por surgir com a constatação de que a palavra é muito frequente nos textos de crítica de arte. O mesmo acontece com a palavra intensidade que facilmente se associa à primeira. Rapidamente se percebe que densidade pode ser sinónimo de riqueza ou de impenetrabilidade, quando não se refere mais literalmente à acumulação de elementos no espaço, por oposição ao vazio ou à rarefacção. O pensamento em torno destas variantes conduziu à percepção de que o conceito poderia ser útil no estabelecimento de um contínuo entre a matéria do pensamento e a dos corpos e objectos, neste caso, a das obras de arte.
KWY - Paris 1958-1968
Centro Cultural de Belém
Curadoria: Margarida Acciaiuoli
15 de Março de 2001 a 22 de Julho de 2001
Grande Hall de Exposições do Centro Cultural de Belém
Exposição sobre o grupo KWY: René Bertholo, Lourdes Castro, Christo, Gonçalo Duarte, José Escada, Costa Pinheiro, João Vieira e Jan Voss. A inauguração da exposição foi no dia 15 de Março de 2001, fazendo parte desta um almoço no Restaurante A Commenda, pelas 13 horas.
Antológica de João Vieira
Museu de Serralves
Curadoria: Museu de Serralves
Janeiro de 2002 a Março de 2002
Museu de Serralves, Porto
Exposição antológica da produção de João Vieira.
Atualização em 01 maio 2023

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