- 2010
- papel
- Fotografia a cores
- Inv. FP565
Vasco Araújo
Todos os que caem
Podem nomear-se duas circunstâncias no percurso de Vasco Araújo que servem de orientações formais na apreciação da sua obra; o facto da sua formação académica ter sido em escultura (Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa), e o gosto pelo canto, nomeadamente pela ópera.
O primeiro gera apetência pela produção de objectos e pela sua espacialização, o segundo congrega essa apetência na realização da encenação, do teatro, da performance, e da narrativa, em apresentações em forma de instalação.
Tematicamente, a sua obra está ligada geralmente à condição humana, referindo em entrevista a Maria João Seixas que «o meu trabalho tem sempre a ver com questões de identidade e de género. Tem a ver com histórias de pessoas, com o cruzamento dessas histórias e com o modo de nos expormos nessas histórias.»*
Desenha-se deste modo, no encontro com a obra do artista, um universo de parábolas e metáforas que, muitas vezes apoiadas em obras clássicas da literatura, da mitologia, da história ou da música, são reconfiguradas em práticas operativas que subvertem a intenção original da obra, claramente com uma intenção de confrontar e questionar o espectador.
A série de dezanove imagens que constituem Todos os que caem não foge à regra, apropriando-se, por um lado, do título da peça radiofónica All That Fall (1957), de Samuel Beckett, mas por outro distanciando-se substancialmente da narrativa da obra, embora não do seu autor.
Efetivamente em meados dos anos trinta, Beckett, na sequência de uma depressão e tratamento através da Psicanálise, foi aconselhado pelo seu médico a assistir a um ciclo de conferências de Carl Jung na clínica em que era seguido. As palavras do psicanalista deixaram-lhe impressões duradouras, ao ponto de utilizar uma história contada por Jung na peça All That Fall.**
Este universo da psicopatologia, da depressão, da psicose, é para onde nos direcciona a imagem de Vasco Araújo – através de um personagem (o próprio Vasco Araújo) que deambula semi-despido por corredores e salas vazias – apropriadamente fotografado no cenário de um pavilhão desactivado do Hospital Júlio de Matos, dando forma ao pretexto do autor para a dramatização do mundo da psicose, do trauma, do abandono, do isolamento.
Utilizando códigos corporais e espaços que associamos à demência (a semi-nudez, a postura recolhida, o distanciamento, a prostração, os espaços em branco, a clausura, os corredores), a série de imagens faz uso também da simetria, ou da composição numa única imagem de dois espaços em que pontuam a presença e a ausência do personagem, numa possível sugestão de relacionamento próximo entre sanidade e insanidade.
JO
Maio de 2012
* SEIXAS, Maria João (2007). «O Canto Novo da Interioridade», in AAVV (2007). BES Photo 2006 [cat.], Lisboa: Fundação Centro Cultural de Belém / Banco Espírito Santo, p. 87.
** Na peça, a referência é contada pela protagonista como uma memória que a persegue desde então, quando ouviu um médico de doenças mentais, de que não se lembra o nome, dizer que depois de desistir ao fim de alguns anos do tratamento de uma rapariga que definhava de dia para dia, e acabou por morrer pouco depois, teve mais tarde uma revelação quanto à causa do problema: foi a de que ela não tinha realmente nascido.
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 160 | cm | |
Largura | 250 | cm |
Tipo | Aquisição |
Data | Setembro de 2010 |
Mais que a vida / Más que la vida / Larger than life - Vasco Araújo . Javier Téllez |
Lisboa, CAM - Fundação Calouste Gulbenkian, 2010 |
ISBN:978-972-635-215-0 |
Catálogo de exposição |
Mais que a vida / Más que la vida / Larger than life - Vasco Araújo . Javier Téllez |
CAM/FCG |
Curadoria: Isabel Carlos |
2010-05-28 a 2010-09-05 Sala de Exp.Temp. do piso 0 da Sede, Sala de Exp. Temp. do CAM e Sala Polivalente |
2010-09-17 a 2011-01-09 MARCO - Museu de Arte Contemporánea de Vigo |
Curadoria Executiva Rita Fabiana |