A aparente banalidade e simplicidade destas imagens fotográficas oculta uma cuidadosa encenação. Foram obtidas através da fotografia de maquetas cuidadosamente construídas e iluminadas pela artista nas quais, aos elementos apropriados da natureza, se juntam outros de natureza artificial. Assim, a iluminação pontual e a cor, que conferem uma sensação de estranheza à «paisagem» fotografada, não são inocentes. Constituem, na relação claro-escuro, um elemento que obriga a um olhar mais demorado para o seu entendimento e, ao mesmo tempo, sugerem emoções e dão indicações subtis do deslocamento da realidade fotografada para o limbo do inusitado e da inquietação.

As imagens da série To Turn Around foram inspiradas no vaguear da artista pelas florestas nas imediações de Berlim. Centram-se, como nos afirmou Gabriela Albergaria, «em registar o momento em que o nosso interesse se começa a fixar no que está atrás de nós e não no que está à nossa frente, no momento em que deambulamos num determinado espaço natural a uma determinada hora do dia.» Estamos, portanto, perante uma obra complexa de representação de memória, um palco fabricado pela artista no qual exerce uma ação de recriação de sensações vividas, interessada que está na «reconstrução dos mecanismos do sentir».

JO

Outubro de 2011