• 1917
  • Óleo e colagem sobre tela
  • Inv. 68P10

Amadeo de Souza-Cardoso

Título desconhecido (Máquina registadora)

Esta pintura-colagem mantém a ligação à cultura popular que caracteriza a generalidade do trabalho de Amadeo. Entre as telas datáveis de 1917, Máquina registadora distingue-se pelo modo de representação que propõe: coloca o motivo – a “máquina registadora” que acabou por dar nome à tela – não só no centro da representação, mas no centro da acção que nela se enuncia, e que envolve a figura de perfil desenhada no canto superior esquerdo e aquela a quem pertence o braço robótico animado de discos delaunayanos. Uma vez que estamos face a uma máquina registadora, é legítimo supor que essa acção implica uma troca comercial e pressupõe, por isso, o acordo e a aceitação das leis do mercado (que estipulam não o nome das coisas, mas o valor de troca das coisas).

Vem isto a propósito do facto de Máquina registadora se oferecer a, pelo menos, dois níveis legítimos de leitura. O primeiro reconhece a primazia do referente e classifica este trabalho como uma representação, sem que com isso subestime a força da pintura e a marca sempre subversiva da colagem. Acentua, por isso, o aspecto fragmentado e a intersecção dos restantes planos pictóricos, as diferentes texturas que a tinta adquire nessas superfícies, a importância do trabalho dos números e letras inscritos a pochoir (onde, desta vez, não encontramos o pochoir com a “assinatura” do pintor), a recorrência do motivo da lâmpada Wotan e da opção pela colagem de espelhos cortados em pequenos rectângulos – o mais visível dos quais surge onde esperaríamos encontrar detalhadas as feições do perfil do hipotético comprador. Nota ainda duas áreas relativamente extensas cobertas de tinta branca por via das quais Amadeo introduz uma espécie de jogo de vazios, de aparentes manchas de não-pintura no seio da própria pintura (na realidade há uma terceira mancha que equivale ao rolo de papel da registadora).

O segundo nível de leitura envolve um aspecto mais especulativo, porque lembra, a partir deste motivo tão prosaico, que a metáfora comercial evoca afinal uma parte da própria raiz etimológica da palavra “representação”: um termo que designa também a ideia da “completa equivalência”, como aquela que se estabelece entre o dinheiro e um bem adquirido quando se assume que representa o valor do que se compra. Máquina registadora demonstra-nos, assim, que a capacidade para analisar os processos de significação associada às vanguardas anteriores à I Guerra (e, muito particularmente, à revolução da colagem) não nos obriga a descartar a referência ao mundo “real”. Ela mantém-se viva e no campo de pertinência da produção de significado porque, como Amadeo bem viu, há muitas formas de deslocar e de questionar o lugar hegemónico que o ilusionismo mimético lhe reservou, sendo que nem todas implicam uma retirada envergonhada.

 

Joana Cunha Leal

TipoValorUnidadesParte
Altura93,3cm
Largura76cm
TipoAquisição
Data1968
Amadeo de Souza-Cardoso: peintre portugais, 1887-1918
Paris, Centre Culturel Calouste Gulbenkian, 1995
Monografia
amadeo de souza-cardoso
Paris, Casa de Portugal, 1958
Catálogo
amadeo de souza-cardoso
Lisboa, SNI, 1959
Catálogo
Artistas portugueses na V Bienal de S. Paulo
São Paulo, Museu de Arte Moderna, 1959
Catálogo
Art portugais: peinture et sculpture du naturalisme à nos jours
Bruxelles, Palais des Beaux-Arts, 1967
Catálogo
Aquisições da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris: Columbano, Sousa Lopes, Francisco Smith, Souza-Cardoso, Vieira da Silva
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1969
Catálogo
Roteiro do Centro de Arte Moderna
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna, 1985
Roteiro
Il Portogallo a Milano
Milano, Electa, 1985
Catálogo
Futurismo & Futurismi
Milan, Bompiani, 1986
Catálogo
Amadeo de Souza-Cardoso, 1887-1918
Bruxelles, Europália, 1991
Catálogo
Amadeo de Souza-Cardoso, 1887-1918
Porto, Fundação de Serralves, 1992
Catálogo
Tradición, vangarda e modernidade do século XX portugués
Santiago de Compostela, Consorcio da Cidade, 1993
Catálogo
Arte moderna portuguesa no tempo de Fernando Pessoa, 1910-1940
Kilchberg, Stemmle, 1997
Catálogo
Amadeo de Souza-Cardoso
Madrid, Fundación Juan March, 1998
Catálogo
At the edge: a portuguese futurist: Amadeo de Souza-Cardoso
Lisboa, Ministério da Cultura, Gabinete das Relações Internacionais; Washington : The Corcoran, 1999
Catálogo
Cinco pintores da modernidade portuguesa: 1911-1965
Barcelona, Fundació Caixa Catalunya, 2004
Catálogo
Amadeo de Souza-Cardoso
Lisboa, Sul, 1956
Monografia
Sinteses=Arte+António Cardoso
[s.l.], Gémeo, 2004
Monografia
1887-1987 centenário do nascimento de amadeo de souza- cardoso
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1987
Catálogo
Dicionário da Arte e dos artistas
Lisboa, Edições 70, 1989
Dicionário
Amadeo de Souza-Cardoso: o português à força & Almada Negreiros: o português sem mestre
Venda Nova, Bertrand, 1986
Monografia
Amadeo de Souza-Cardoso: diálogo de vanguardas
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Assírio & Alvim, 2006
Catálogo
Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918): Ein pionier aus Portugal
Hamburg, Ernst Barlach Haus, 2007
Catálogo
Capolavori dell'Arte Europea: I 27 celebarno il cinquantesimo anniversario dei Trattati di Roma
Roma, MondoMostre, 2007
Catálogo
amadeo de souza-cardoso
Paulo Ferreira
23 de Janeiro a 18 de Março de 1958
Casa de Portugal
19 de Maio a 31 de Maio de 1956
Galeria Dominguez Alvarez
Amadeo de Souza-Cardoso, 1887-1918
27 de Setembro a 8 de Dezembro de 1991
Museu de Arte Moderna
5 de Março a 19 de Abril de 1992
Fundação de Serralves
Evento integrado na Europália 91.
Aquisições da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: A definir
1969
Fundação Calouste Gulbenkian
Art Portugais - Peinture et Sculpture du Naturalisme à nos jours.
Fundação Calouste Gulbenkian
Outubro a Novembro de 1967
Palais des Beaux - Arts
Abril a Maio de 1968
Casón del Buen Retiro
30 de Janeiro a 25 de Fevereiro de 1968
Centre Culturel Portugais, Fondation Calouste Gulbenkian
Comissário: Fernando de Azevedo. Bruxelas, Paris, Madrid, Outubro de 1967 a Maio de 1968.
At the edge: a portuguese futurist: Amadeo de Souza-Cardoso
20 de Janeiro a 17 de Março de 2000
The Arts Club of Chicago
11 de Setembro a 28 de Novembro de 1999
The Corcoran Gallery of Art
Futurismo & Futurismi
1986
Palazzo Grassi
Il Portugallo a Milano
7 de Março a 21 de Abril de 1985
Palazzo Reale
Artistas Portugueses na V Bienal de S. Paulo
Setembro a Dezembro 1959
Museu de Arte Moderna de São Paulo
amadeo de souza-cardoso
Paulo Ferreira
Maio de 1959
Secretariado Nacional de Informação - Palácio Foz
Junho de 1959
Museu Nacional Soares dos Reis
Tradición, vanguarda e modernidade do século XX portugués
Curadoria: José Luiz Vásquez Montero
Julho a Agosto de 1993
Auditorio de Galicia, Sala de Exposición Isacc Díaz Pardo
Arte moderna portuguesa no tempo de Fernando Pessoa, 1910 -1940
18 de Dezembro de 1997 a 12 de Fevereiro de 1998
Centro Cultural de Belém
20 de Setembro a 30 de Novembro de 1997
Schirn Kunsthalle
Amadeo de Souza-Cardoso
16 de Janeiro a 1 de Março de 1998
Fundación Juan March
Exposição co-organizada pelo Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão da Fundação Calouste Gulbenkian.
1887-1987 centenário do nascimento de amadeo de souza- cardoso
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian
20 de Julho de 1987 a 31 de Outubro de 1987
Fundação Calouste Gulbenkian
Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
Amadeo de Souza-Cardoso: diálogo de vanguardas
Curadoria: FREITAS, Helena de
15 de Novembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007
Fundação Calouste Gulbenkian
Capolavori dell'Arte Europea
23 de Março a 20 de Maio de 2007
Palazzo del Quirinale, Salone dei Corazzieri
Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918): Ein pionier aus Portugal
2 de Dezembro de 2007 a 30 Março de 2008
Ernst Barlach Haus
Atualização em 04 abril 2024

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