• 2004
  • Mini-DV, Cor, som, 4´24´´
  • Inv. IM21

Rui Calçada Bastos

The Mirror Suitcase Man

DEPOIMENTO DO ARTISTA

 

Podemos supor que são memórias, o que um homem guarda numa mala de espelho, em The Mirror Suitcase Man. Mas a inversão funcional da mala coloca no exterior dela (na reflexão da imagem) os principais acontecimentos.

 

Concentramos toda a atenção nesse objeto em que se espelha a cidade, as pessoas, os transportes, as árvores e as ruas. Chegadas e partidas de comboio ou de metro, portas que se fecham, escadas que se sobem, cais de estações, carros que passam – a deambulação da personagem é pausada, parada por vezes, mas variada, e funciona como registo dos movimentos anónimos na cidade. Como se o tempo da passagem, da deslocação fosse a principal memória que fica desses cruzamentos não intencionais, no tecido urbano. O slowmotion ocasional, um flash branco ou um corte entre imagens, o som de uma máquina de escrever, a música de órgão, algumas frases quase impercetíveis em francês, o som de um vinil estragado, o grão de uma imagem a preto e branco já antiga contribuem para um ambiente globalmente nebuloso e perdido no tempo, praticamente onírico e sem coordenadas.

 

A mala abre um buraco no real e cria no seu espaço restrito um abismo, um ecrã, um microcosmo em que parcelas desse real passam de verídicas a fictícias, de extensas a recortadas. Os planos oblíquos, os terrenos ascendentes, a escada em caracol, os balouços, o vento nas árvores, a posição ortogonal da mala em relação aos fundos de rua que nela se vêem, os pontos de vista múltiplos, em contra-picado, em profundidade, em grande plano, em contraposição e inversão no espelho, acentuam essa maleabilidade e irrealidade espácio-temporais. A passagem de linhas de luz artificial pelos lugares de constituição da imagem é ainda outra forma de estabelecer intermitências percetivas e uma espécie de mergulho inebriado na sua ilusão.

 

Com o rio e a berma, que surgem no final, refere-se a ideia de fronteira territorial a que a mala dá expressão, durante toda a sequência. A mão que a segura, a personagem formalmente vestida que a passeia têm a rigidez e a constância necessárias à inevitável concentração no objeto protagonista: uma mala que recusa a sua função interior trocando-a por uma exterior. A reflexão da cidade torna-se reflexão acerca da memória percetiva e acerca da verosimilhança do próprio real. No espaço da mala de espelho nada se guarda e tudo se expõe; nesse sentido ela é uma antimatéria funcional, uma anti-imagem do real.

 

Leonor Nazaré

 

Maio de 2013

 

TipoAquisição
DataNovembro de 2004
Densidade Relativa
Lisboa, CAM/FCG, 2005
ISBN:972-635-169-x
Monografia
Densidade Relativa
Leonor Nazaré
Curadoria: Leonor Nazaré
27 de Outubro de 2005 a 22 de Janeiro de 2006
HALL de entrada e Piso 1 no CAMJAP
12-8-2006 a 26-11-2006
Centro Cultural Emmerico Nunes e Centro das Artes de Sines
 
Atualização em 23 janeiro 2015

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