• 2012
  • Video HD, formato 16:9, cor, som, 10`05``
  • Inv. 13IM61

Fernando José Pereira

The man who wanted to collect Time

Desde praticamente o início deste século que, crescentemente, estava a interessar-me pela questão, hoje muito mais visível, das temporalidades impostas pelo que designei de «tempo maquínico», o tempo da sociedade da informação, o tempo da instantaneidade.

Em 2012 fiz uma residência de artista numa pequena cidade do este da Islândia. Um local com uma particularidade curiosa: foi para lá que o artista Dieter Roth decidiu ir viver e trabalhar nos anos 70, e é a partir dessa sua opção que a cidade se desenvolve como cidade «artística» até hoje.

Uma das primeiras sensações que tive quando lá cheguei foi a de um tempo alongado, lento. Tão distante do frenesim das nossas cidades.

Um acontecimento chamou a minha atenção: uma avalanche de neve havida em 1995 e que destruiu a principal fábrica da cidade, uma fábrica de processamento de farinha de peixe.

O vídeo decorre no que resta da fábrica. Encontrei um ator canadiano que, por essa altura, lá vivia e se enquadrava nas imagens que queria registar.

Um detalhe importante para o entendimento do vídeo é o facto de «o que resta da fábrica», as suas ruínas, terem sido compradas por dois irmãos nos dias seguintes a sua destruição. Não com o intuito de refazer a fábrica ou construir outra coisa, mas de a manter como memória viva do acontecimento. E até hoje lá está. Conheci os irmãos e percebi que a sua relação com o tempo era a que me interessava. Entre outros detalhes deliciosos, convidaram-me a visitar a sua colecção de automóveis (desde os anos 60 até, pelo menos a 2012) que se afirma como a antítese absoluta do que pensamos para o termo colecção: no caso deles, os automóveis encontram-se num enorme terreno, expostos aos elementos (e sabemos que na Islândia o tempo não é fácil) e em diversos estados de degradação consoante a idade e o tempo que ali se encontram.

O vídeo The man who wanted to collect Time foi feito a pensar nesses seus gestos.

Um último detalhe (visível as imagens): as ruínas mantiveram-se estáveis durante os 17 anos que mediaram o acontecimento e as filmagens. Contudo, durante o processo, uma forte tempestade destruiu um dos únicos elementos edificados ainda existentes. Essa situação provocou a alteração do projecto e as imagens finais aparecem já com o edifício destruído, e com uma nova possibilidade metafórica para elas próprias que, espero, ser reconhecível no vídeo.

Fernando José Pereira, outubro de 2021

Tipo Aquisição
Data 8 de novembro de 2013
CAM em Movimento
CAM
16 de dezembro de 2021 a 3 de janeiro de 2022
Contentor marítimo instalado no Jardim Gulbenkian
Atualização em 13 dezembro 2021

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