Esta obra data de um período em que Richard Smith, vivendo entre Londres e Nova Iorque, começou a procurar outras formas de trabalhar com, e contra, a bidimensionalidade da superfície da tela. The Lonely Surfer [O surfista solitário] é expressivo desta demanda: a obra parece ganhar uma presença que extravasa os limites físicos da tela, pela força imprevisível do azul que enche grande parte da superfície.

 

O conjunto apresenta um carácter lúdico e envolvente que atrai o olhar, ao qual Richard Smith deixa um papel significativo. Para ele, «a possibilidade da vulgaridade, uma atitude diferente face à escala e à cor, uma redefinição da relação entre espetador e pintor», são elementos fulcrais na sua obra. Na obra em análise, uma prancha monumental ocupa uma posição central, impondo-se sobre um mar agitado mas esquematizado que a acolhe. Consciente de técnicas cinematográficas e publicitárias, Richard Smith introduz uma qualidade ilusionista e um grande dinamismo na composição, permitindo ao espetador a sensação de estar perante uma cena ou uma passagem de um filme.

 

The Lonely Surfer – o título remete para uma canção surf de Jack Nitzsche, pequeno sucesso de vendas no ano em que o quadro foi pintado – cruza influências e entendimentos distintos: do expressionismo abstrato, a natureza espontânea do pictórico, os efeitos inesperados como as pinceladas bruscas ou os salpicos de tinta e o tratamento da cor; da Pop Arte, os temas; da Op Arte, as construções bi- e tridimensionais. O resultado é original e parece apontar no sentido da seguinte afirmação do artista: «Interesso-me não tanto na mensagem como no método.»

MG

 

Maio de 2010