A apetência pelo serialismo e uma tendência monocromática são duas das características da obra de Fernando Calhau, que se podem relacionar de forma direta com a extensiva dedicação à gravura que determinou o início do seu percurso artístico. Com efeito, consolidando a base de uma exploração sensível aos princípios de multiplicação inerentes à Pop Art, e sobretudo informada pelas propostas seriais do Minimalismo – que lhe serviram de declarada referência, como se tornaria cada vez mais evidente no seu trabalho –, foi na gravura que, desde o final da década de 60, o artista começou por testar um trabalho baseado na reprodução e na repetição.

 

É, em certa parte, essa insistência num mesmo projeto, e num mesmo processo, que pode ser identificada na série de aguarelas produzida em 1980 – na qual, por entre a diluição de formas, se deixam adivinhar diferentes paisagens. Partindo de uma limitada gama de tons de terra, que por vezes se alarga ao azul e ao cinza, estas aguarelas constituem-se como manchas de cor que revelam uma concentrada exploração das potencialidades da aquosidade própria à técnica adotada, e que, num constante, mas subtil, processo de superação, assumem frequentemente variações mínimas entre si.

 

 

MBA

 

Outubro de 2011