• 1998
  • Tela
  • Óleo
  • Inv. 00P1034

José Loureiro

S/Título

Sobre a pintura de José Loureiro já se escreveu, e ele próprio o afirmou, que se trata de «pintura sobre pintura, usando os meios da pintura»*. Não estamos, porém, perante uma redução da pintura a esses meios, subsidiária da apologia da exploração específica do medium feita por Clement Greenberg nos anos 40, mas da pesquisa do que é possível fazer com esses meios.

 

José Loureiro pinta os seus quadros a óleo e explora, em improviso sobre improviso, as potencialidades de infinita sobreposição que esse meio lhe permite. O processo prolonga-se em acumulação de camadas até ao estabelecimento de um equilíbrio final entre elementos que joga com o sentido de construção de espaço pictórico e a ilusão entre profundidade e superfície.

 

A partir de meados da década de 90, os elementos que podemos identificar nas suas telas são bolas, cujas diferentes dimensões e tonalidades, bem como a sua disposição ritmada, criam uma rede – a base da pintura, sistematicamente comentada por ela própria ao longo do século XX –, ou sobreposição de redes, que ilude a nossa percepção de fundo e superfície. Estes elementos foram escolhidos pela sua simplicidade ou elementaridade, pois permitem uma clareza na enunciação das possibilidades perceptivas resultantes das relações que estabelecem entre si.

 

Ao longo das pinturas seguintes, o ritmo e a repetição das bolas alinhadas fizeram aparecer sob elas riscas paralelas, com as bolas cada vez mais pequenas até ficarem apenas pontos. É o que acontece nesta, em que os distinguimos, ordenados, como pequenos pregos nas listras finas e muito próximas. Nos interstícios das riscas surgem pequenas manchas coloridas horizontais, que vistas de mais longe formam linhas sinuosas. As linhas aparentam ter sido feitas com pinceladas livres gestuais, quando na verdade são controladas e pintadas fragmentariamente nos intervalos entre as barras horizontais. As subtis gradações de cor iludem mais uma vez superfície e fundo: vistas à distância as linhas sinuosas parecem ter grafitado o estore de riscas horizontais, vistas mais de perto parecem afinal surgir por entre as frinchas. Mais próximo ainda verifica-se que tudo está, na verdade, e como sempre acontece em pintura, à superfície e que a multiplicação de planos é uma ilusão assumida. É também um diálogo, segundo referiu já o pintor, com as redes de Jackson Pollock, tramas elaboradas sobre tramas, ocultando e desocultando o que está por baixo e baralhando as camadas com as sucessivas sobreposições. Loureiro fá-lo, no entanto, com o absoluto domínio da pincelada e da pintura, e não com a aleatoriedade inerente ao dripping. Embora sem programa, baseadas num processo de improvisos em camadas e incorporando acidentes, as pinturas de José Loureiro mostram uma consciência dos meios e da tradição da pintura, que se traduz numa experiência visual intensa para o observador. É o que se passa nesta tela, contribuindo para isso a tonalidade dourada, soalheira, que persiste mesmo depois de deixarmos de olhar para ela.

 

 

MPS

 

* In «São pinturas feitas com tinta», entrevista de Alexandre Pomar a José Loureiro, Expresso (suplemento «Actual»), 29 de Novembro de 1997.

 

TipoValorUnidadesParte
Altura180cm
Largura130cm
Tipodata
Texto1998/99
Posiçãoc.s.d., no verso
Tipoassinatura
TextoJosé Loureiro
Posiçãoc.s.d., no verso
TipoAquisição
DataMaio 2000
Atualização em 23 janeiro 2015

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