- Postal
- Ponta de feltro, Lápis de cor e Esferográfica
- Inv. DP1455
Ana Hatherly
s/título
O desmembramento da escrita, o torná-la ilegível, faz descer a palavra ao seu primeiro grau de afeção: o ritmo. Como se a linha fosse uma matéria moldável que se pudesse transformar ao ponto de «cobrir-nos com o barro das palavras», afastando-nos definitivamente da sua origem rítmica, sonora, espacial.
Nas suas investigações académicas e artísticas sobre a natureza da arte, sobre «o acto criador e da sua gratuitidade», Ana Hatherly desmistifica a operação criativa enquanto ato tutelado por uma instância divinatória. Contudo, ela não parece ter dúvidas quanto às relações entre o homem e as dinâmicas da Natureza, relações que testemunham uma «conjugação cósmica».
Essa sabedoria partilha-a com Paul Klee. A admiração pelo pintor suíço leva-a a experimentar algumas particularidades do seu trabalho, como o pequeno formato, numa espécie de iniciação aos constrangimentos físicos do espaço. Esta limitação revela a profunda relação entre o espaço criativo e o psicológico, afetados pela opressão do contexto social. De igual modo, a história pessoal de Ana Hatherly leva-a a fazer aquilo a que chama de «obras minúsculas» onde a escrita é tão pequena que a leitura se torna sofrida, impossível.
Por outro lado, o diálogo entre os dois artistas estende-se ainda a um sentimento comum do espaço, medido por essa rede invisível que liga todas as coisas em constelações animadas pelos elementos vitais. Ana Hatherly mergulha com Klee no princípio das coisas e do saber, numa espécie de ingenuidade pueril, para se deparar com o ritmo criador do espaço e do tempo, que se materializa na cadência do som, no conjuntos de pontos e traços unidos em «um mundo / o mundo»; o mundo tornado rede de ligações.
JB
Setembro de 2010
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 10 | cm | |
Largura | 16 | cm |
Tipo | Doação |
Data | Abril de 1991 |