• 1976
  • Tela
  • Tinta celulósica
  • Inv. 76P617

Luís Noronha da Costa

Sem título

A obra visual de Luís Noronha da Costa foi realizada a partir do diálogo criativo com a natureza da imagem. Formado em Arquitectura e apaixonado por cinema – que realizou experimentalmente –, o artista começou por explorar as possibilidades de desdobramento semântico da linguagem gráfica das revistas de actualidades*, prosseguindo daí para a construção de objectos com espelhos que questionavam o sentido e significado da própria visão. As séries de objectos, nomeadamente a série de objectos azuis, datada de 1968, apresentam, uma forte continuidade imagética com a pintura produzida em anos posteriores. Configuravam já de uma forma bastante explícita a ideia de ecrã, isto é, de um plano exterior à pintura onde, fruto de uma propositada ambiguidade espácio-temporal, a imagem criada parece completar-se, dado fundamental na pintura subsequente de Noronha da Costa, que a assume como método de trabalho.

A pintura aqui apresentada pertence à série de «pinturas de paisagem com grelha» sobre as quais o pintor escreverá «aqui a “grade” deixa de ser grade e há uma identificação entre a leitura das parcelas e a imagem total. (…) O que é espantoso é que-se- -cria-espaço, mas que QUANDO-SE-CRIA-ESPAÇO (quando intervém o tempo…) tudo está no mesmo plano, e então o plano coincide com o ecrã.»**

A pintura da grelha em primeiro plano, com zonas de claro-escuro, impõe a sequência serializada das imagens, que surgem como fotogramas de um filme sobre a percepção das cambiantes lumínicas emitidas por diferentes pontos de luz. As imagens dos objectos sobrepostos ao fundo de sugestão paisagística, também ele por vezes iluminado, elencam um repertório iconográfico muito trabalhado pelo artista – velas, lâmpadas eléctricas, árvores, discos solares, frutos. O naturalismo da representação da grelha aumenta o grau de artificialidade da imagem. A linguagem cinematográfica é aqui pictoricamente trabalhada, o pintor exercita-se no desdobramento, na verificação, do espaço-tempo da imagem. Outras pinturas de grelhas sobrepostas ou com a introdução do preto a velar parcial ou quase totalmente o plano da pintura, se seguirão a esta, numa «espécie de tratadística da imagem» que faz da obra pictórica exploratória de Noronha da Costa uma possibilidade de reflexão estimulante sobre as virtualidades do poder da imagem.***

 

Ana Vasconcelos
Maio de 2010

 

* Com uma série de composições realizadas a partir de uma «técnica original de “transparência”» (como escreveu José-Augusto França), que dava a ver simultaneamente a frente e o verso de recortes de revistas embebidos em óleo de linhaça.

** Miguel Wandschneider e Nuno Faria, Noronha da Costa Revisitado (1965-1983), Porto / Lisboa, Edições ASA, Fundação CCB, 2003, p. 284.

*** Bernardo Pinto de Almeida, Noronha da Costa ou a consciência do tempo, Lisboa, Caminho, 2006, p. 26.

TipoValorUnidadesParte
Altura165cm
Largura220,5cm
Tipo data
Texto1976
Posiçãona frente
Tipo assinatura
TextoNoronha da Costa
Posiçãona frente
TipoAquisição
Data29 Dezembro 1976
Atualização em 01 maio 2023

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