• 1987
  • Tela
  • Tinta acrílica
  • Inv. 87P780

Pedro Calapez

S/Título

Escala de cor

 

Começo por seleccionar todas as cores que os fabricantes de tintas proporcionam. Disponho os respectivos potes de tinta na mesa de trabalho agrupando-os segundo uma possível paleta de cores: estabeleço uma escala entre as cores que primeiro penso utilizar e as suas opostas, não no sentido óptico ou de círculo cromático, mas por associações subjectivas, intuitivas. Por vezes restrinjo de início o número de cores a utilizar. Já tem acontecido escolher apenas duas cores, pintar apenas com branco e preto. Os tons intermédios surgem no fazer duma intensidade antes de pintar ou resultam da mistura física na superfície do quadro onde os “degradés” proliferam pelo arrastar da tinta. Dimensões, forma, distância, actuam na escolha das cores. O processo de pintar flui irregularmente entrecortado por momentos de contemplação, em que, como espectador, experimento os múltiplos cromatismos presentes. O processo repete-se sendo o momento de terminar determinado no relance do olhar que certifica.

 

É dum concreto problema que me ocupo: fazer funcionar cores, formas, volumes. Que dimensão poderá ainda ganhar, ao olhar de quem olha, um conjunto de cores, delimitadas pelas particulares superfícies que as comportam? Será que ainda é possível reivindicar importância ao olhar? O olhar como parte dum sentir? As cores e as formas não o são apenas. Algo emana da sua física presença. Como aparecem e se estruturam é determinado no fazer, parte determinante no processo da pintura.

 

Pairam as cores diante de mim, deslocando-se como nuvens num céu rápido de ventos. Arrastam-se umas nas outras, ora fundindo-se ora arranhando-se. Contrastam entre si, promovem jogos inesperados. Falamos de Arnheim, Itten, Kandinsky, Chevreul, Goethe para convocar uma mão cheia de explicações. Mas fica sempre algo por dizer. O espaço das cores é variável e ambíguo, não é explicativo ou afirmativo. Tanto permite falar de politica como de amor, como de nada. Falar de nada é ainda uma possibilidade, a última possibilidade para ainda comunicar. O lugar da comunicação, da contemplação, desloca-se. As imagens continuam a existir para além do que podem ilustrar. Estabelecem um mundo com vitalidade própria onde a discussão da realidade é um assunto menor. Revelar a cor, relembrar a sua existência, só é possível na física empatia da sua intrínseca natureza.

 

Pedro Calapez

 

 

TipoValorUnidadesParte
Altura251cm
Largura174,5cm
Tipodata
TipoAquisição
DataAbril 1987
Representação Portuguesa na 19ª Bienal de São Paulo
Lisboa, Portugal, Fundação Calouste Gulbenkian/ Gabinete de Design CAM, Outubro de 1987
Catálogo de exposição
Atualização em 23 janeiro 2015

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