Este guache de António Soares foi publicado na Magazine Bertrand, n.º 45, de Novembro de 1930. Esta revista mensal aparece em 1927, já sob a alçada da ditadura militar que se impusera após o golpe de estado militar de 28 de Maio de 1926, e será impressa até 1933.

 

Citando o catálogo da exposição Arte moderna portuguesa no tempo de Fernando Pessoa, 1910-1940: «Durante os anos 20 portugueses, as capas dos magazines, publicações que então se editavam como fenómeno da época, foram espaços fundamentais para espelhar uma urbanidade fictícia onde a mulher surge como figurino preferencial de uma vida mundana mais desejada que real. António Soares foi um dos artistas que participaram assiduamente nestas publicações, contribuindo para a criação de um imaginário feminino estilizado, mais permeável aos ritmos rápidos da moda, procurando uma consonância necessária com o público consumidor, ainda que desadequada com o conteúdo dos magazines, ligeiro e com frequência ideologicamente conservador.»*

 

A capa retrata, deste modo, uma mulher moderna que se inscreve no imaginário das mulheres do tempo pela relação que estabelece com a imagética cinematográfica e teatral, que circulava por fotografias e onde poses similares eram ensaiadas. Neste desenho, em que prevalecem as cores neutras no tom esbranquiçado da pele e nos pretos e cinzentos da roupa que usa, a composição de grande qualidade é animada pelo movimento levemente denunciado da figura e pelo vermelho dos lábios prolongado na linha que remata o desenho em baixo.

 

 

* Arte moderna portuguesa no tempo de Fernando Pessoa, 1910-1940, catálogo de exposição, Kilchberg, Zurique: Stemmle, 1997, p. 152.

 

 

ASR

 

Maio de 2010

 

 

 Revisto por GV, Junho de 2012