Esta obra insere-se sem dúvida no conjunto da produção de Almada ligada ao «Club das Cinco Cores», grupo formado pelo artista, e pelas quatro bailarinas d’O Jardim da Pierrette – Tareca (Maria Madalena Morais da Silva Amado); Lalá (Maria Adelaide Burnay Soares Cardoso); Zeca (Maria José Burnay Soares Cardoso); e Tatão (Maria da Conceição de Mello Breyner) – criado em 1918, no âmbito da realização deste bailado.
Trata-se de um momento decisivo na génese da poética da ingenuidade almadiana, aqui, essencialmente ligada à infância, à imaginação e à espontaneidade, enquanto elementos essenciais de criação, e que seria amplamente desenvolvida em Paris, entre 1919 e 1920. A inscrição «Comme vous j’aime une Marie / qu’avec elle je me marie / G. Appollinaire», presente neste desenho, transcreve os dois últimos versos de La Colombe, uma das quadras do Bestiaire ou cortège d’Orphée de Guillaume Apollinaire, publicado em 1911 e reeditado em 1919, ano da chegada de Almada a Paris. Note-se que num poema datado, também, de Paris 1919, Histoire du Portugal par Cœur, texto-estreia da ingenuidade – de que existem duas versões manuscritas conservadas no CAM (DP243 e 247), directamente relacionadas com o «Club» – Almada cita novamente La Colombe e, Le Dromadaire, outro poema do Bestiaire. É neste contexto que se inserem outras obras do CAM: DP167, DP168, DP183, DP184, DP244, DP245, DP246, DP 248, DP249 e DP250.
SA-F
Maio de 2010