Almada representa o mito de Eros e Psique, definido pelo escritor romano Lúcio Apuleio em O Asno de Ouro, no momento em que Psique aproxima a lucerna do rosto de Eros adormecido, omitindo, porém, os atributos iconográficos que geralmente acompanham as duas figuras míticas. Esta supressão de atributos poderá explicar-se à luz da peça que Almada escreve um ano após a realização deste desenho, intitulada O Mito de Psique (1949), inspirada no mito de Apuleio mas transposta para os dias de hoje – «adverta-se a assistência de que o mesmo acontece hoje em dia, é claro, de outro modo» – apresentando «por Afrodite», «a Mãe»; «por Eros», «o Filho»; e «por Psique», «a Esposa deste [e] as três irmãs desta».
Almada viria novamente a abordar este tema em 1953-1954, no vitral Eros e Psique, encomendado para a residência de José Manuel Ferrão, no Restelo, projectada pelo arquitecto António Varela (cf. Cátia Mourão, Eros e Psique – Um vitral gnóstico de Almada Negreiros, Lisboa, Assembleia da República, 2009).
SA-F
Novembro de 2010