- 1927
- Cartão
- Guache e Grafite
- Inv. DP977
Jorge Barradas
s/título
A ABC – Revista Portuguesa foi um dos mais importantes periódicos generalista da imprensa nacional da década de 1920, tendo sido fundada em 1920 e extinta em 1932. Não obstante o elevado número de revistas, jornais e suplementos em circulação nestes anos, a ABC destacou-se das demais, essencialmente pela forte aposta que realizou na grafismo e ilustração dos seus números, tendo contado com a colaboração de vários nomes ligados ao modernismo português como Jorge Barradas, Stuart de Carvalhais, Emmerico Nunes, Roberto Nobre, Bernardo Marques, entre outros.
A associação que ao longo do ano de 1927 se verificou entre a ABC e o Bristol Club (clube nocturno lisboeta ativo entre 1918 e 1928) permitiu financiar as melhores capas da revista, uma vez que nelas o clube era publicitado, ficando, por isso, os custos de impressão e pagamento aos respetivos autores a cargo do estabelecimento. Estas capas, cuja maioria foi realizada por Jorge Barradas, têm como protagonista a “mulher Bristol”: independente, alegre, jovial, representando o ideal feminino daqueles anos. O cabelo à garçonne, a silhueta alongada e andrógena, lábios vermelhos e olhos pintados, envergando as últimas modas de Paris, bebendo, fumando ou dançando Charleston são atributos e comportamentos quase sempre presentes nas heroínas de Barradas, representando ora as frequentadoras habituais do clube, ora as bailarinas contratadas.
O desenho preparatório do autor para uma destas capas, hoje pertencente à Coleção do CAM, reproduz de forma exemplar toda esta ambiência, pois nele, destacada por luzes que projetam uma silhueta voluptuosa, apresenta-se uma jovem bailarina, de pose atrevida, expressão sedutora, vestido curto, modelo da flapper girl, cuja presença marcante dispensa qualquer tipo de cenário. O fundo despojado, interrompido apenas pela inclusão do logótipo da revista (canto inferior direito), publicidade ao Bristol Club – “o mais alegre” – (canto superior direito) e pela assinatura do autor (canto superior esquerdo), contrasta com a energia desta figura cujas formas alongadas e algo masculizadas conseguem simultaneamente incorporar traços de erotismo e sensualidade. Este contraste é igualmente enfatizado pela inclusão de tons fortes como o vermelho, preto e azul no vestuário e adereços da figura, assim como pelas nuances de luz e transparências que o recurso à aguarela permite criar. Um dos maiores traços de modernidade deste trabalho, revelador do espírito criativo de Barradas, reside no não-enquadramento da figura com a moldura, dado que na parte superior do desenho o chapéu da bailarina prolonga-se para lá dos limites da moldura, numa deliberada atitude de rutura face às práticas tipográficas da época.
Daniela Simões
Março 2015
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Largura | 22,7 | cm | |
Altura | 31,4 | cm |
Tipo | assinatura e data |
Texto | Jorge / Barradas / 927 |
Posição | c.s.e. |
Tipo | outras |
Texto | Revista / Portuguesa / 150 cts |
Posição | c.s.e. |
Tipo | outras |
Texto | Bristol / Club / o / Mais ale / gre |
Posição | c.s.d. |
Tipo | Aquisição |
Data | Julho de 1983 |
Inauguração do CAM |
CAM/FCG |
Curadoria: A definir |
20 de Julho de 1983 Lisboa, Centro de Arte Moderna/ FCG |
20 de Julho 1983. |
Le XXéme au Portugal, Pintura, Escultura, Desenho, Tapeçaria |
Fundação Calouste Gulbenkian |
1986 Bruxelas, Centre Albert Borschette |
Bruxelas, 1986 |