- 1913
- Cartão
- Óleo
- Inv. 84P48
Emmerico Nunes
Sem título
A transposição, para a tela, desta cena humorística enuncia que caricatura e pintura são, para Emmerico Hartwich Nunes, artes de igual nobreza. Na Europa, o quotidiano e o interior doméstico popular erigidos como tema pictórico, bem como o seu tratamento humorístico, entroncam na tradição da pintura flamenga dos séculos XVI e XVII. Ao longo do século XIX, naturalistas e impressionistas retomariam estes temas, desta feita inspirados na estampa japonesa, então amplamente difundida, sobretudo em Paris. É precisamente neste cruzamento entre géneros e diferentes espaços culturais/temporais que se inscreve a cena nocturna pintada por Emmerico, fruto da sua aprendizagem na capital francesa (1906-1911). Aqui se formou em Belas-Artes, frequentou as academias livres e passou boa parte dos tempos livres a copiar a pintura dos mestres: “Esta semana vou começar uma nova cópia de Rembrandt no Louvre. O último estudo pintado que fiz vou mostrá-lo ao Cormon na próxima semana.” (postal ao pai, 28/03/1909).
Em Paris, coleccionou (seguramente) estampas japonesas e daqui viajou para Inglaterra, Holanda e Bélgica, com Manuel Bentes e Eduardo Viana, em 1910. As várias experiências materializam-se na composição clássica do segundo plano da tela, no tratamento dado ao fundo, no jogo claro-escuro da luz. Ou ainda na mancha negra que envolve o homem adormecido no chão – nela ecoam os pretos de Frans Hals e de Francisco Goya, revisitados por Edouard Manet. Repare-se ainda na sombra que alastra ao lado da figura masculina (tão diferente da sombra projectada pela mesa de cabeceira), que se autonomiza face ao sujeito e que, por sua vez, se torna mancha pictórica – com ela regressamos ao mundo da estampa, que a Europa da segunda metade de oitocentos reinventara inspirando-se na tradição japonesa. Reina uma estranha paz nesta cena nocturna que o artista pintou em 1913, dois anos após a sua chegada a Munique. A atmosfera de tranquilo bem-estar que emana deste interior alemão, sublinhado pelos tons ocres, laranja e rosa da luz que banham o quarto e nos revelam o conforto dos característicos edredões de penas, indicia o quanto Emmerico se identifica com o país natal da mãe, onde permaneceria até ao eclodir da Primeira Guerra Mundial.
Isabel Lopes Cardoso
Janeiro de 2011
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Altura | 50 | cm | |
Largura | 52 | cm |
Tipo | assinatura e data |
Texto | E. H. Nunes, Munich 1913 |
Posição | c.i.e. |
Tipo | Doação |
Data | Janeiro de 1984 |
Heimo Zobernig e a Colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian/ Heimo Zobernig and the Collection of the Calouste Gulbenkian Foundation Modern Art Centre; Heimo Zobernig and the Tate Colllection/ Heimo Zobernig e a Colecção da Tate |
Lisboa/ St. Ives, 2009 |
ISBN:978-1-85437-826-2 |
Catálogo de exposição |
Emmerico Hartwich Nunes. Retrato Sensível. Arte e Desenho Humorístico na Imprensa Alemã |
Museu Nogueira da Silva |
Curadoria: Isabel Lopes Cardoso |
17 de Dezembro de 2004 a 26 de Fevereiro de 2005 Museu Nogueira da Silva, Minho |
Heimo Zobernig e a Colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian |
CAM/FCG |
Curadoria: Jürgen Bock |
11 de Fevereiro de 2009 a 31 de Agosto Centro de Arte Moderna |
Exposição Permanente do CAM |
CAM/FCG |
Curadoria: Jorge Molder |
18 de Julho de 2008 a 4 de Janeiro de 2009 Centro de Arte Moderna |