Datada de 1972, Sem Título inscreve-se na continuidade de experiências realistas, de herança pop, desenvolvidas por Teresa Magalhães no início da sua carreira. À semelhança de outras obras da artista realizadas na mesma época (ver Sem Título, de 1971, igualmente na colecção do CAM), esta última põe em foco aspectos de uma realidade trivial, quotidiana, transfigurando-os em elementos modulares de uma paisagem urbana imaginária. Assim se nos apresenta a jovem mãe (ou ama?) atravessando – determinada – um espaço vago, indefinido. Empurra um carrinho de bebé. Dinamismo, energia geradora e sensualidade desprendem-se da figura feminina, graças a uma combinação hábil de linhas diagonais e ao escalonamento de planos, que sugere um movimento ascendente da esquerda para a direita, um movimento positivo, vulgarmente conotado com a esperança e o futuro (o elemento mais à direita é precisamente o «invisível» bebé).

A tonicidade da cena é reforçada pelas cores e pelos seus contrastes (mulher: branco, amarelo, laranja e vermelho; bebé: branco, azul), bem como pela caracterização pormenorizada da personagem central, cujo rosto todavia não nos é dado ver: a jovem usa sapatos de sola em cunha, calções curtos e camiseiro branco. Os cabelos longos e ondulantes, com madeixas, intensificam uma aparência de dinamismo e concorrem para reforçar a imagem de emancipação e independência.

Concebida como um painel móvel, de platex recortado, a obra destina-se a ser suspensa numa parede, a alturas variáveis. Do ponto de vista formal, a sua configuração assemelha-se aos pictogramas de sinalização, enquanto do ponto de vista iconográfico corresponde, como vimos, a uma apresentação poética da mais comum das situações: um passeio de uma jovem mãe com o seu filho recém-nascido.

AFC
Novembro de 2011