• 1996
  • Papel Fotográfico
  • Fotografia
  • Inv. 99FP339

Nuno Cera

Snapshots 3

«As cascatas que pintou fazem demasiado barulho. Impedem-me de dormir.» Assim se queixou o Imperador ao pintor chinês Li Ssu-hsûn (ca. 650-720 d.C.). Se nas paisagens de Gabriela Albergaria, como To turn around 40 e To turn around 43, acompanhamos o crescendo do crepitar do fogo que consome a mata portuguesa, dos Snapshots (veja-se também Snapshot 4) de Nuno Cera, captados a partir de um veículo em movimento, desprende-se um estranho e não menos ameaçador silêncio. Tudo se passa como se estivéssemos dentro de uma redoma. Não percebemos bem se ela nos protege. Duvidamos. Porque para nos proteger, as imagens do mundo exterior captadas de relance teriam de ser bem mais tranquilizadoras. A redoma redunda, assim, em pura ilusão. Ou, como escreve Manuel João Ramos em Sinais do Trânsito: «engana-se o dono do jipe. Um jipe não é aquela carcaça robusta que ele pensa ter adquirido para se sentir mais protegido dos seus semelhantes. A segurança que transmite a quem o utiliza é ilusória porque ao contrário de um veículo ligeiro, em caso de colisão forte, a carapaça de um jipe torna-se um verdadeiro sarcófago.»

 

«12:15:06». Qualquer um de nós poderia ser uma das três pessoas que caminham ao longo da estrada asfaltada fotografada por Nuno Cera, sobre a qual avança a sombra ameaçadora do automóvel. Há quem empreste o flanco ao carro, confiante na civilidade do condutor. Ou simplesmente porque está alheado de tudo. Mas também há quem, como a senhora que caminha pela direita, aprendeu a desconfiar de ambos (da máquina e do seu condutor) e lhes prefira fazer frente. Nos dois casos, a luz crepuscular e o silêncio da redoma acentuam o desconforto borderline da situação. Ignoramos para que lado se desenvolverá a narrativa. Os olhares da transeunte e do condutor cruzam-se, deixando ao espetador a escolha do seu próprio papel no enredo que lhe é proposto. A tensão é palpável, a sombra do automóvel avança, ameaça deglutir os homens e a paisagem. Esta (a paisagem) pode não ser portuguesa. Mas como vivemos num país que todos os anos se consome entre fogos e a «guerra incivil» travada nas estradas rápidas do «cimêncio» («silêncio+cimento», diz Cera), os Snapshots silenciosos de Nuno Cera atingem-nos. São paisagens vividas, nos olhos, nos cheiros, nos sons; no silêncio.

 

 

ILC

 

Outubro de 2011

TipoValorUnidadesParte
Largura29cm
Altura21cm
Tipo assinatura
TextoNuno Cera
Posiçãoverso
Tipo título
TextoSnapshots 3
Posiçãoverso
Tipo data
Texto1996
Posiçãoverso
TipoAquisição
DataOutubro de 1999
Atualização em 23 janeiro 2015

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