Smog #15 é uma das 22 imagens da série Smog, trabalho apresentado em 2000 por Nuno Cera, em parceria com Noé Sendas, na Sala do Veado do Museu da História Natural em Lisboa. A instalação surgiu em continuidade à reflexão proposta em Runaway World (Matadouro Municipal das Caldas da Rainha), deste mesmo ano.

 

Os vários ambientes fotografados por Nuno Cera em cidades não identificadas instauram, em Smog, um discurso plural sobre a cidade, os seus espaços e habitantes, a globalização, a angústia, a desilusão, o isolamento. As situações criadas pelas encenações de bonecos antropomórficos de Noé Sendas dialogavam com esta representação fotográfica, que aproximavam, num dramatismo mais «humanizado», ao espectador. Um monitor de vídeo, com imagens de um homem a correr em loop de O Anjo Ébrio (1948), de Akira Kurosawa (1910-1998), complementava a instalação na Sala do Veado.

 

A imagem Smog #15 é paradigmática deste universo, na medida em que um corredor é sempre um «território de transição», um elemento de deriva, um espaço de passagem, uma plataforma de convergência e ao mesmo tempo de divergência. A ausência do elemento humano e a simetria da imagem reforça um desafio que se coloca ao observador: enfrentar essa passagem sem subterfúgios, pensar a «linha de fuga» como a única escapatória possível, encarar a mudança para um espaço desconhecido como uma inevitabilidade de uma dinâmica imposta por uma sociedade em mutação constante.

 

Num plano mais pragmático, esta imagem serviu também outros propósitos de Nuno Cera, que nos afirmou: «Por vezes, no meu trabalho, existe uma fotografia que desponta uma nova série. É o caso de Smog #15. Foi essa a fotografia que me fez realizar a série The Corridors, exibida apenas na XXVII Bienal de Pontevedra, em 2002.»

 

 

JO

 

Novembro de 2011