- 1920
- Tela
- Óleo
- Inv. 83P44
António Carneiro
Sinfonia azul
O perfil psicológico e alguns aspectos mais conturbados da vida de António Carneiro têm marcado o discurso sobre a sua obra com um tom por vezes hagiográfico. Mesmo quando recusa a componente laudatória, esse discurso acaba por justificar a obra com a biografia, o que nem sempre permite um melhor entendimento da sua pintura.
António Carneiro fez vários retratos ao longo da sua carreira de pintor, muitos por encomenda, quer sobre papel a sanguínea, lápis ou carvão, quer pinturas a óleo de amigos, familiares e destacados membros da sociedade. Embora reconhecido no seu tempo pela comunidade nortenha como grande retratista, foi consagrado a posteriori sobretudo pelas melancólicas e perturbantes paisagens, assinalando-se a notável singularidade dos seus quadros nocturnos, tendo o retrato, por comparação com o contemporâneo Columbano, sido menos considerado. No entanto, as pinturas dos membros da sua família e de amigos mais próximos, feitas sem a necessidade de satisfazer exigências de encomenda, são igualmente singulares. Sensível às linguagens mais expressivas e simbólicas da pintura fin de siècle com que contactou na sua passagem por França, onde estudou entre 1897 e 1900, António Carneiro explorou a possibilidade de abordar os temas moldando-os com a pincelada, com empastelamentos e raspagens que tornam o desenho preparatório secundário ou mesmo dispensável. A par desta pesquisa especificamente pictórica, trabalhou sempre também o desenho em si mesmo, no qual era exímio. Porém, quando o desenho adquire peso maior na sua pintura, ela resulta em quadros mais académicos.
Sinfonia Azul é uma dessas telas produzidas em contexto doméstico e tem como modelo a filha do pintor, Maria Josefina, mas talvez seja pouco acertado chamar-lhe retrato. O quadro joga com o contraste entre a escuridão interior e a luz branca, matinal, que entra pela janela à esquerda, encadeando a portada e projectando reflexos na parede, no livro aberto no chão, no vestido e corpo da jovem mulher sentada. A gradação dos negros, cinzentos, cinzento-azulado e brancos cria a atmosfera azul que o título refere. Apenas alguns apontamentos de amarelo e tons acastanhados são permitidos e fazem da imagem uma visão acolhedora, contrariando a frieza das restantes cores usadas. O rosto emerge da penumbra apenas pela iluminação com pinceladas rosa sumárias que lhe esboçam, mas não revelam, a expressão. É a luz, cujos reflexos saltam entre as pregas do vestido, os braços nus e o rosto, revelando a presença da figura feminina, que dá azo à metáfora musical. O título completa o quadro na medida em que faz a leitura poética do momento intimista e apaziguador pintado. O corpo feminino apresenta-se, assim, mais como um elemento que ajuda a criar este ambiente do que como uma figura retratada.
Mariana Pinto dos Santos
Maio de 2010
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Largura | 63,5 | cm | |
Altura | 78,5 | cm |
Tipo | assinatura |
Texto | António Carneiro |
Posição | frente, canto inferior direito |
Tipo | data |
Texto | 1920 |
Posição | frente, canto inferior direito |
Tipo | Aquisição |
Data | Julho de 1983 |
Tipo | Carimbo |
Texto | Col. Jorge de Brito |
Posição | no verso da tela e na grade |
António Carneiro (1872-1930) - algumas pinturas e desenhos |
CAMJAP/FCG |
Curadoria: Alice Costa Guerra |
21 de Junho de 2005 a 8 de Janeiro de 2006 Galeria do Piso 01 do museu do CAM |
Exposição de pinturas e desenhos. |
Inauguração do CAM |
CAM/FCG |
Curadoria: A definir |
20 de Julho de 1983 Lisboa, Centro de Arte Moderna/ FCG |
20 de Julho 1983. |
Pintura Portuguesa - Século XX |
Câmara Municipal de Coimbra |
Curadoria: Telo Morais |
6 de Dezembro de 2001 a 27 de Janeiro de 2002 Casa Municipal da Cultura, Coimbra |
Exposição que pretendeu retratar a produção de alguns pos pintores mais relevantes do século XX. |