• 2010
  • SomCD-R e Coluna de Som
  • InstalaçãoSonora
  • Inv. 13E1746

Luísa Cunha

Senhora!

Na obra de Luísa Cunha, o som é uma matéria que tem sido trabalhada com frequência. Podemos relembrar aqui obras como Words for Gardens, de 2004, ou Drop the bomb, de 1994, onde o som em questão é o da voz humana. Mas com uma particularidade: essa voz é a própria voz da artista, construindo jogos linguísticos e semânticos com as palavras que profere. A sua voz é simultaneamente a presentificação do seu corpo, nessa condição imaterial que apenas o registo e os necessários dispositivos de reprodução sonora representam para o espectador, numa dupla relação espacial e psicológica.

A obra intitulada Senhora!  inscreve-se nesta linha de trabalho. Uma breve frase, repetida em loop, é dita a partir de uma coluna de som: “SENHORA! …. TODA A GENTE SABE.” Em primeiro lugar, esta frase estabelece de imediato um correlato entre o que se torna público e o que é domínio do individual, privado, talvez secreto, talvez transgressivo, ou apenas um indício de que a privacidade e a identidade se encontram numa situação de perda. Em segundo lugar, porque a coluna de som, revestida a tule vermelho, está instalada sobre a parede a uma altura aproximada de um metro e sessenta e cinco centímetros. A altura média de uma pessoa.

Ou seja, este objeto que é voz e esta voz que se torna palavra corporalizam, no seu conjunto enquanto obra e na transfiguração da cor e desse material associado à mulher, um véu translúcido de anonimato e de dúvida sobre a condição daquela, desse outro sujeito anónimo, a quem esta frase se dirige.

O tom da voz é de um aviso, mas é também o de uma ameaça sobre a sua independência, a sua autonomia, consequentemente expondo a vulnerabilidade a que cada indivíduo se sujeita no cruzamento das relações sociais e políticas. A obra cria uma forte tensão psicológica quando nos reconhecemos nessa hipotética figura a quem as palavras são dirigidas. Contudo, a possibilidade veritativa do seu significado na publicitação do que já não pertence à esfera da privacidade individual pode significar, para qualquer um de nós, a cisão da unidade que determina o indivíduo e, desta forma, a perda da liberdade.

 

João Silvério
Junho 2015

TipoValorUnidadesParte
Profundidade13,3cm1 coluna com cobertura vermelha
Altura14,7cm1 coluna com cobertura vermelha
Largura24,3cm1 coluna com cobertura vermelha
TipoAquisição
Verride
Curadoria: Filipa Oliveira
Exposição "Verride" patente ao público no Palácio Belmonde, Lisboa em 2012
Mono
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
Curadoria: António Olaio e Carlos Antunes
Exposição Mono, projecto de António Olaio e Carlos Antunes, CAPC, Coimbra, Portugal, 2010
Atualização em 01 maio 2023

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