O campo preferencial de pesquisa plástica de Paulo Brighenti (1968) é a paisagem. Nos seus trabalhos, com recurso a diversas matérias e processos de elaboração, tais como o óleo, a aguarela, a tinta-da-china ou o carvão, ele remete-nos frequentemente para correspondências entre as obras e manifestas associações entre o desenho, a pintura e a fotografia.

 

Essa intersecção e a referência à natureza, que são parte inerente da intervenção artística do autor, evidenciam-se muito particularmente do núcleo de trabalhos aqui destacado, exposto pela primeira vez na exposição colectiva Os Últimos Dias, no CAM, em 2000. Trata-se de cinco peças a carvão sobre papel Arche realizadas nesse ano, nas quais Brighenti regressa a um conjunto de imagens feitas em cartões a tinta-da-china a partir de peças fílmicas e fotografias, e explora uma constelação de atmosferas paisagísticas, ensaiando variações sobre o ato de representação.

 

Patente nas obras expostas, a coexistência de diferentes possibilidades de explorar a forte textura do papel, a densidade, o ritmo, a direção, o contraste, a intensidade e a marca do traço do carvão denso e das manchas informes reafirma a paisagem enquanto conjunto de momentos singulares, na sua dinâmica de transformação e transitoriedade. Por vezes, dominam a mancha e a obscuridade do negro, destacando-se as atmosferas inquietantes e sombrias; outras vezes evidencia-se a procura de um equilíbrio em que a claridade do branco e do fundo emprestam à composição um efeito dramático intenso.

 

Universos abstractos e densos por excelência, libertos de horizonte, a sugestão e a qualidade impressiva destas composições paisagísticas decorre também, e muito, da experiência intuitiva e do olhar do autor, capaz de traduzir e sintetizar em imagens os fenómenos efémeros que constituem a vida da paisagem.

 

 

 

Sandra Vieira Jürgens

Outubro 2014