Esta tela, datada de 1939, conduz-nos irresistivelmente à pintura de Pierre Bonnard (1867-1947). São vários, os aspectos que permitem uma aproximação entre Bonnard e Francis Smith. Ambos trabalharam à margem da multiplicidade revolucionária de tendências e escolas artísticas da primeira metade do século XX, e ambos foram amigos de Marcel Proust. Nas suas obras, procuraram reconstituir a intensidade das imagens armazenadas na memória, evocadoras de um tempo (perdido) feliz. La chambre verte (Bonnard, 1909) abre uma janela sobre uma cena da intimidade feminina, que se desenha no espelho fruto, talvez, da recordação sugerida por um dos elementos do ambiente banhado pelo sol matinal: a saboneteira, o jarro de água, a bacia. Na tela de Smith, os olhares evocadores multiplicam-se, cruzam-se, estabelecem uma teia de relações mais intensa e complexa com a memória. Do interior da janela da casa, duas figuras femininas observam a renda que cresce nas mãos da velha mulher (a mãe?) sentada à porta. Um homem (o pai do artista?) observa-a igualmente, completando o círculo da intimidade familiar. Em ambas as obras, o rectângulo (espelho ou janela) circunscreve o espaço memorial e um mesmo motivo pintalgado (papel de parede ou cortina, calçada) constitui a película que capta e transcreve o momento recordado.

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