• Painel de 54 azulejos
  • Inv. CP22

Júlio Pomar

sem título

Derivado de uma encomenda do Governador do Distrito Federal de Brasília para intervir no revestimento exterior do Gran Circo-Lar dessa cidade, este painel de azulejos é uma das múltiplas imagens que Júlio Pomar realiza para o edifício. No seu conjunto, são vinte e quatro imagens relativas à arte circense, incluindo animais, palhaços, músicos e equilibristas.

 

Quando comparado com os desenhos que executara em 1983 para o revestimento azulejar da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, em Lisboa (e de que o CAM possui alguns exemplares), observamos como a linha aqui se arredonda e  se quebra o traço rectilíneo das personagens lisboetas. Tal dever-se-á a uma nova experimentação com o desenho por parte do autor, mas provavelmente também ao tema mais lúdico do edifício e à forma circular da parede exterior a que se destinava. 

 

A mulher aqui retratada a traços curvos e angulados traduz uma atitude inequivocamente jovial, remetendo para um universo humorístico ou até infantil. As dimensões da figura ameaçam os próprios limites da obra, apanágio recorrente da produção de Pomar. Embora central, a figura é de um enorme dinamismo, não só pelo ângulo descrito entre o seu tronco e pernas, pela posição angulada por seus braços e perna, pela sugestão de uma expressão facial divertida, como pelos contrastes entre as diversas densidades do traço e pelas inusitadas e expressivas interrupções deste. A espirituosidade do desenho parece assim prenunciar o universo circerse que o interior do edifício desvelará.

 

Quando perspectivado no seu conjunto e no contexto arquitectónico e urbanístico para o qual foi concebido, este painel lança questões mais amplas. Segundo Paulo Herkenhoff, “Pomar e Bulcão promovem a subversão da regra. Desaprisionam o olhar da malha [do azulejo]. Essa atitude ganha um significado maior se considerarmos que esta azulejaria se incorpora à vida de Brasília, cidade e cenário para uma utopia social, com as suas regras urbanísticas pervertidas, nos anos da ditadura, em sistema opressivo dos seus cidadãos. Os dois artistas estão a reafirmar na prática, e não apenas na metáfora, o destino utópico de Brasília, recompondo a crença na vocação construtiva da cidade como espaço de experiência e vocação de liberdade.”* Em sentido semelhante ainda que diverso, Frederico Morais observa: “O picadeiro, até por seu formato circular, cósmico, surge como metáfora do nosso universo, onde se juntam o ridículo e o sublime, a nostalgia e a desesperança, o erotismo e as pequenas vitórias diárias contra a morte, o aplauso e a luta pela sobrevivência. Na cidade futurista, no centro do poder político, o circo de Júlio Pomar funciona como uma espécie de resistência contra a desumanização do homem na grande cidade, contra o poder da burocracia.”**

 

* Paulo Herkenhoff, “O Circo e o Pomar” in Pomar-Brasil: O Gran’ Circo Lar, Brasília, 1986. Os Mascarados de Pirenópolis, 1987. Xingú, 1988, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/Centro de Arte Moderna, 1990, s/p.

 

** Frederico Morais, “O Circo de Brasília” in Pomar-Brasil: O Gran’ Circo Lar, Brasília, 1986. Os Mascarados de Pirenópolis, 1987. Xingú, 1988, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/Centro de Arte Moderna, 1990, s/p.

 

 

 

Luísa Cardoso

Fevereiro 2015

TipoValorUnidadesParte
Altura14cmcada
Largura84cmtotal dos 54 azulejos
Altura14cmcada
Altura126cmtotal dos 54 azulejos
DataA definir
Atualização em 23 janeiro 2015

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