- 1997
- Papel
- Tinta-da-china
- Inv. DP1764
Ana Hatherly
Salva a Alma!
Não tenho outro recurso
Ana Hatherly, A Escritalidade
A tarefa da escrita, da pintura, da criação, está muito longe da tranquilidade e ociosidade, revelando-se mesmo um expediente penoso, ou até um abismo. O poeta trava muitas vezes um combate mudo com as vozes «que só ele ouve» e que tenta aprisionar na «máscara da palavra». Mas o verdadeiro prazer só existe quando há sofrimento – «não há criação sem dor» – e a criação torna-se para Ana Hatherly a única salvação. O criador não tem por isso, alternativa senão prestar-se à «escribatura», pois só essa lhe poderá dar a liberdade.
Toda a obra de Ana Hatherly está marcada pela reversibilidade da linha que ora tem o relevo da palavra, ora esbate-se nas profundezas do desenho. Das obras expostas pela primeira vez na exposição Handmade (2000) sobressai a elegância da escrita redigida manualmente. Esta ocupa o espaço da folha seguindo um itinerário irregular, rebuscado, formando desse modo manchas de texto que reenviam para figuras, rostos, criaturas estranhas que parecem mover-se através da ondulação dos sonhos.
Apesar do grão da palavra, nesta série de desenhos a linha da escrita, e o que ela diz, dissolve-se na imagem que ela própria forma. Ao mesmo tempo, não tomasse a linha um ritmo cardíaco e estas imagens não teriam a dupla dimensionalidade do desenho e da escrita. Nesse sentido, esta convergência de diferentes dimensões artísticas num só objeto mostra a aguda compreensão de Ana Hatherly sobre a arte barroca. Aliás, como a artista refere, «creio que a antiga ambição de realizar o espectáculo total (que foi ensaiada pela ópera, inventada no período barroco) poderá vir a ser concretizada pela acção do poeta-operador», cuja função é a de criar imagens que se movimentam em diversos sentidos, não chegando nunca a encontrar a direção do labirinto.
JB
Setembro de 2010
Tipo | Valor | Unidades | Parte |
Largura | 20,3 | cm | |
Altura | 12,7 | cm |
Tipo | assinatura, data e título |
Texto | Ana Hatherly. 97 Salva a alma! |
Posição | Verso: quadrante inferior direito |
Tipo | Aquisição |
Data | Janeiro de 2001 |